Citado por delatores da Odebrecht como um dos principais destinatários da propina do PMDB, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, teria viabilizado a entrega, em março de 2014, de pelo menos R$ 1 milhão em seu próprio escritório, na Rua Siqueira Campos, no centro de Porto Alegre. A informação foi repassada aos investigadores da Lava-Jato por Benedicto Júnior e Cláudio Melo Filho, ex-executivos da empreiteira.
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Segundo os delatores, o pagamento trata de uma das três parcelas de uma remessa de R$ 4 milhões para financiar, por meio de caixa 2, campanhas do PMDB. O recurso teria sido endereçado a Padilha e Moreira Franco, atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Os dois são investigados no inquérito 4.462, aberto pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Esse montante seria parte dos R$ 10 milhões acertados em um jantar, em 28 de maio de 2014, que reuniu Marcelo Odebrecht, Padilha e Michel Temer, no Palácio do Jaburu.
À Procuradoria-Geral da República (PGR), Benedicto entregou uma planilha retirada do sistema de propinas da Odebrecht, que vincula os R$ 4 milhões a obras de "aeroportos". O pagamento teria ocorrido quatro meses depois de a empresa vencer o leilão do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. No governo Dilma Rousseff, Moreira foi ministro da Secretaria de Aviação Civil entre 2013 e 2014, sucedido no cargo por Padilha em 2015, no início do segundo mandato da petista.
– É provável que ele (Moreira) pudesse nos retaliar com alguma coisa, já que ele tinha um poder muito grande na secretaria de Aviação – disse Benedicto, temeroso sobre o futuro do contrato do Galeão.
Nesta quinta-feira, o jornalista Lauro Jardim, em seu blog no jornal O Globo, informou que o grupo chinês HNA comprou a fatia da Odebrecht no Galeão, com um investimento de R$ 4 bilhões no negócio.
O repasse é ligado ao codinome "Primo". Cláudio Melo relacionou a alcunha a Padilha, enquanto Benedicto disse que a referência seria a Moreira. Entre os delatores, no entanto, há convicção de que os dois peemedebistas atuavam juntos.
– Nós encontramos no sistema Drousys comprovação de pagamento, endereço de entrega, sob os codinomes de Primo e Cariocar Primo, que eram os codinomes para este pagamento. Eles são referentes a Moreira Franco, porque ele tem uma relação de contraparente com Cláudio Melo. Eles são primos distantes – afirmou Benedicto.
Segundo ele, Moreira solicitou a Cláudio Melo, em Brasília, a contribuição de campanha. Os endereços para as entregas ficaram sob responsabilidade de Padilha. A Odebrecht detalha o pagamento em três parcelas. Uma delas, de R$ 1.062.000, teria sido feita em 17 de março de 2014 na "Rua Siqueira Campos", a uma pessoa identificada como "Luciano Pavao". Este é o endereço do escritório de advocacia de Padilha em Porto Alegre.
Os locais de entrega das outras duas parcelas (R$ 1,4 milhão em 17 de março e R$ 1,5 milhão em 24 de março) não foram esclarecido. Benedicto ainda repassou à PGR registros de quatro ligações a Padilha no período em que teriam ocorrido as transações.
O que diz Eliseu Padilha:
Por meio de nota, o ministro-chefe da Casa Civil disse que "confia nas instituições brasileiras, razão pela qual registra que tem certeza de que com a abertura das investigações lhe será garantida a oportunidade para exercer amplamente seu direito de defesa".