Citado na delação do ex-executivo da Odebrecht Pedro Novis como possível beneficiado por caixa 2, o deputado federal Pepe Vargas (PT) contestou a suspeita por meio de nota.
"O executivo em questão, Sr. Pedro Novis, diz em depoimento prestado em 12/12/2016 que ouviu falar. Repito, em suas palavras ele diz: 'ouvi falar' que alguns deputados poderiam ter sido apoiados via caixa dois. Perguntado se teria algo de concreto, ele diz que não, que 'foi de ouvir falar'. Sequer cita valores, como ou a quem presumidos valores teriam sido repassados. Diz que os deputados apoiados mediante caixa dois o foram como retribuição pelo apoio a uma Medida Provisória que trouxe benefícios fiscais à Braskem, empresa do grupo Odebrecht, aprovada pelo Congresso Nacional em 2005. Em 2005 eu não era deputado federal. Assumi meu mandato em 2007, o que demonstra a flagrante mentira do Sr. Novis", afirma Vargas em trecho do documento.
Além Pepe, Novis aponta nomes como o da ex-deputada federal Luciana Genro, da ex-governadora Yeda Crusius (PSDB) e do deputads federal Marco Maia (PT).
Pepe Vargas e Luciana Genro não integram a lista de investigados apresentada pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), e também não são alvos de nenhuma das 201 petições encaminhadas pelo magistrado a juízes de outras instâncias.
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A partir dos 19min50s da gravação, o delator é questionado sobre que políticos, além de Rigotto e Yeda, teriam obtido caixa 2 da Braskem, braço da Odebrecht no Estado, para campanhas no Rio Grande do Sul.
Leia como se desenrolou o diálogo entre ele e o promotor, cujo nome não foi divulgado:
Novis: Doutor, eu tenho a informação de ouvir falar de alguns deputados federais que foram apoiados com recursos de caixa 2, que constam do meu anexo, como é o caso da deputada Luciana Genro, do deputado Pepe Vargas, do deputado Marco Maia. Mas isso...
Promotor: Mas foi caixa 1 ou caixa 2?
Novis: Caixa 2.
Promotor: Tudo caixa 2?
Novis: Isso... não teve como recuperar... nós não falamos...
Promotor: Mas essa informação foi de gente da Braskem?
Novis: Foi da época, do próprio Alexandrino e do diretor regional lá. Comentavam que esses recursos estavam sendo para atendimento a essas pessoas.
Promotor: Então o senhor não tem mais nenhum detalhe de valores, de como foi pago?
Novis: Não, senhor.
Promotor: Isso foi na eleição de 2006?
Novis: Isso foi... eu não tenho isso aqui anotado... 2002 ou 2006... Desses três que estou lhe citando, mas é provável que tenha sido em 2006.
Promotor: Então, além desses deputados, além dos governadores, houve pagamento de... via caixa 2 para esses deputados que o senhor mencionou.
Novis: Sim, senhor.
Promotor: Agora, isso passou pelo senhor em que nível? Foi só um ouvir dizer ou o senhor deu a concordância para que fosse feito? Alguém foi pegar o aval do senhor?
Novis: Não, não, foram só comentários [....]
Leia na íntegra a nota enviada pelo deputado federal Pepe Vargas:
Lamento que o jornal Zero Hora, em edição on line, tenha referido no dia 16, que um executivo da Odebrecht, em depoimento de delação premiada, tenha dito que eu poderia ter sido beneficiado com caixa dois na eleição de 2006. O executivo em questão, Sr. Pedro Novis, diz em depoimento prestado em 12/12/2016 que ouviu falar. Repito, em suas palavras ele diz: "ouvi falar" que alguns deputados poderiam ter sido apoiados via caixa dois. Perguntado se teria algo de concreto, ele diz que não, que "foi de ouvir falar". Sequer cita valores, como ou a quem presumidos valores teriam sido repassados. Diz que os deputados apoiados mediante caixa dois o foram como retribuição pelo apoio a uma Medida Provisória que trouxe benefícios fiscais à Braskem, empresa do grupo Odebrecht, aprovada pelo Congresso Nacional em 2005. Em 2005 eu não era deputado federal. Assumi meu mandato em 2007, o que demonstra a flagrante mentira do Sr. Novis. Frente a tamanha inconsistência não causa surpresa que o Ministério Público não tenha solicitado ao STF abertura de investigação sobre mim e que meu nome não conste entre os deputados que serão investigados em função da homologação das delações dos executivos da Odebrecht. Lamentavelmente a reportagem afirma que tentou contato comigo, mas em nenhum momento fui procurado através dos meus telefobes ou de minha assessoria. Nunca tive qualquer contato com este cidadão ou com qualquer diretor deste grupo econômico. Não os conheço, logo não teria como pedir a eles qualquer doação eleitoral.