Apesar de o Centro de Atendimento ao Migrante (CAM) ter ajudado a haitiana Monette Esperance, moradora de Caxias do Sul há quatro anos, a arrecadar mais de R$ 24 mil para financiar a vinda dos filhos dela à cidade, a mulher ainda não conseguiu reencontrar as crianças. Desde fevereiro, quando a quantia foi arrecadada através de uma vaquinha online, a família tenta emitir os passaportes. Sem ninguém para auxiliar no encaminhamento dos documentos, que deve ser feito por algum familiar lá no Haiti, Monette vê o sonho de trazer Adjy, oito anos, Betchnaille, seis, e Djodly, 10, ao Brasil, cada vez mais longe.
– Eu já sonhei tanto com a chegada deles aqui, que tenho perdido a esperança. O primeiro desafio de ter o dinheiro eu venci, graças às pessoas que me ajudaram, agora, parece que o problema é bem maior. Queria que tudo ficasse certo o mais rápido possível – lamenta Monette.
O drama da haitiana ainda é agravado pelo fato de as crianças viverem em extrema vulnerabilidade social no Haiti e, inclusive, passarem fome diariamente. Os pequenos vivem em situação precária na pequena cidade de Mirebalais, localizada a 30 minutos de Porto Príncipe, capital do país.
– Eu não tenho dinheiro suficiente para mandar todo mês para eles. Tem dias que deixo de comer para conseguir juntar mais. Jamais vou desistir de buscar eles, mas fico triste por não conseguir fazer nada neste momento – diz a mulher.
Como as crianças moram no Haiti, a expedição dos passaportes ocorre apenas no país caribenho. De acordo com a embaixada haitiana no Brasil, o processo é teoricamente simples: um familiar, devidamente reconhecido em uma procuração, deve reunir a documentação das crianças e encaminhar para a embaixada. Depois, os papéis são enviados ao Brasil e direcionados para Monette, que deve assinar e reenviar os documentos ao Haiti. Após esse processo, os passaportes são emitidos.A reportagem também tentou contato com o consulado do Brasil no Haiti, para saber se algum processo já foi aberto para a emissão dos documentos, mas não obteve retorno até o fechamento da edição.
Enquanto a haitiana não consegue ajuda para iniciar os trâmites da documentação, o valor arrecadado na vaquinha online permanece intacto no banco e somente deve ser utilizado após a liberação dos passaportes.