A imprensa internacional está de olho na reforma previdenciária brasileira, que se tornou um tema de alto interesse por mexer com a maior economia sul-americana. Diferentes tons refletem o ambiente multifacetado do debate no Brasil. Há de tudo: quem defenda a reforma como essencial para o futuro da economia brasileira, quem veja o governo de Michel Temer perdendo a oportunidade de realizá-la antes do período eleitoral e, ainda, um moderado The New York Times criticando o governo porque, com medidas como o teto para gastos públicos, "poderia prejudicar os pobres nas próximas décadas, especialmente em áreas como a educação".
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A revista Forbes diz que a reforma é uma condição para o governo fazer a economia "reagir", citando frase do presidente do Citibank Brasil, Hélio Magalhães. Dependeria disso a volta dos investidores ao país. Mas a publicação ressalva que "o frágil governo de Michel Temer" tem uma pequena "janela de oportunidade" neste momento. Alega que, em 2018, o Congresso estará em meio à campanha eleitoral e que muitos políticos podem ver o assunto como um "assassino de carreiras", em razão da alta impopularidade. Por outro lado, os investidores miram o contexto todo com atenção, para avaliar seus próximos passos.
Já a agência Bloomberg diz que Temer aposta na reforma para restaurar a confiança dos investidores, mas sustenta que a tarefa "se revelou muito difícil" para ex-presidentes populares como Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso – mais difícil, segundo a Bloomberg, seria para um presidente com "10%" de aprovação, ainda mais que a própria reforma peca pela impopularidade. Mas o governo teria, conforme a agência, o apoio do Congresso.
Em seguida, perfila questões e dá as respostas. Diz que o Brasil "gasta mais de 8%" do Produto Interno Bruto (PIB) em benefícios previdenciários. Pondera que esse percentual é "mais baixo que a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas que "o Brasil tem uma população mais jovem".
Depois de explicar o projeto de Temer, a Bloomberg pontua as críticas dos sindicatos, para quem "as reformas despojarão os brasileiros de seus direitos constitucionais" e o governo deveria olhar para as evasões e isenções fiscais. Cita a professora Denise Gentil, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, para quem não há déficit de aposentadoria, mas sim "desvio de fundos para outros fins".
A publicação britânica The Economist faz uma descrição da praia de Copacabana para dar um "vislumbre do futuro demográfico", que seria bastante sombrio, porque a população tende a envelhecer, e o país estaria "perigosamente despreparado para esse choque". Cita a Constituição de 1988 como um texto legal preocupado em resolver problemas de desigualdade social agravados nos 20 anos de ditadura, mas indica distorções resultantes disso.
O The New York Times conta que "a economia doentia do Brasil sangra milhares de empregos por dia, os Estados lutam para pagar policiais e professores" e outros males bem conhecidos dos brasileiros. Mas cita os aumentos e benefícios autoconcedidos por legisladores. "O Brasil está lutando para sair de sua pior crise (...)", e "Temer diz que o país precisa reduzir os gastos públicos para fazê-lo." Em seguida, cita o "péssimo índice de aprovação" do presidente e "um generoso banquete financiado pelos contribuintes para persuadir os membros do Congresso a apoiarem seus cortes no orçamento, com 300 convidados comendo camarão e filé mignon".
O debate se dá fora do Brasil, nas ruas e no Congresso. Na terça-feira, especialistas de Canadá e Chile discutiram, no Seminário Internacional sobre Reforma da Previdência, seus sistemas após passarem por reformas. O chileno Alberto Arenas de Mesa, doutor em economia e ex-ministro da Fazenda do Chile, enfatizou que o sistema precisa não apenas ser sustentável financeiramente, mas a cobertura e os benefícios também precisam ser eficientes em cumprir seu papel.
O professor Ari Kaplan, da faculdade de Direito da Universidade de Toronto (Canadá), disse que em seu país há uma grande preocupação com a situação financeira dos idosos.
– Sabemos que, quanto mais velhas as pessoas, maior é o gasto com saúde. Por isso é um problema de política pública. No Canadá, não é possível separar saúde e aposentadoria – resumiu ele.