Após mais de um ano e meio do pedido de recuperação judicial, a empresa Guerra vai levar aos credores o que prevê de reestruturação para evitar a falência. A assembleia geral de credores da fabricante de implementos rodoviários será no dia 23 de março, em primeira convocação. Se não tiver o quórum necessário para submeter o plano à análise dos fornecedores e de quem tem direito a receber, uma segunda convocação está marcada para o dia 30 de março. As reuniões começam às 14h, no restaurante Tulipa dos pavilhões da Festa da Uva. O credenciamento dos credores estará aberto a partir das 13h. A assembleia vai movimentar a cidade porque mais de 700 credores têm direito a voto.
A lei de recuperação prevê que representantes da mais da metade do valor dos créditos a receber de cada classe, como credores trabalhistas, de garantia real, quirografários e de microempresas e empresas de pequeno parte, estejam presentes para a assembleia ser de fato instalada. O edital convocando para a reunião deve ser publicado nos próximos dias.
Além de estabelecer prazos para o pagamento dos credores, o plano da Guerra está alicerçado em um empréstimo de R$ 35 milhões de um fundo americano, que é gerido no Brasil pela Grotowski Empreendimentos e Participacoes S/A. A primeira parte, cerca de R$ 19 milhões, paga em quatro parcelas, já foi liberada pela empresa. O repasse de outros R$ 15 milhões para a Guerra foram condicionados a aprovação do plano de recuperação judicial. Ele prevê como a empresa fará o pagamento deste financiamento. Segundo o documento que será apresentado aos credores, a Guerra pretende quitar a dívida trocando ações ordinárias, que dão poder de voto, ou debêntures, que são títulos de crédito emitidos pela empresa.
O prazo judicial para credores apresentarem objeções ao plano termina nesta quinta-feira (2), mas o administrador da recuperação judicial da Guerra, Cristiano Franke, ressalta que podem ser sugeridas alterações durante a assembleia. Quando a Guerra entrou com o pedido de recuperação em julho de 2015, tinha 129 milhões de dívidas em reais, outros 448 mil em dólares e 82 mil em euros. São mais R$ 100 milhões de dívidas de credores que não se submetem à recuperação judicial, totalizando R$ 230 milhões. Ao todo, foram levantados 747 credores do período, a maior parte fornecedores de matéria prima. O laudo de avaliação de bens apontou um montante total de R$ 148 milhões, incluindo as duas unidades fabris da Guerra, na BR-116, em Caxias do Sul, e a unidade de Farroupilha.
Situação econômica
A empresa, que já teve 1500 empregos diretos, hoje conta com 800. Em outubro, a empresa demitiu 160 trabalhadores, mas não tinha verba para pagar as rescisões. O Sindicato dos Metalúrgicos entrou na Justiça e eles foram readmitidos e agora estão sendo pagos com os recursos provenientes do empréstimo. Vale ressaltar que as dívidas contraídas após o pedido de recuperação judicial não entram no plano que será submetido agora aos credores. Os credores de dívidas contraídas depois do pedido, feito em julho de 2015, têm prioridade no recebimento. A Guerra aponta a queda de 55% no emplacamento de veículos desde 2015 como justificativa para o pedido de recuperação. Se o plano for aprovado e a empresa cumprir com todas as obrigações estabelecidas, pode encerrar o período de recuperação em dois anos, conforme o plano. O prazo para os pagamentos passa a contar a partir da homologação judicial do que for decidido na assembleia ou em até 60 dias a contar do encontro. A segunda parcela do empréstimo prometido pelo fundo internacional deve ser paga em até 12 meses após a homologação do plano. Apesar da crise, a Guerra fechou contrato para fornecimento de 160 unidades para o Paraguai.
Três planos de recuperação diferentes
Um dos motivos para explicar porque a votação do plano de recuperação judicial da empresa Guerra está levando cerca de um ano e meio é a situação de controle da companhia. Em 2008, o grupo francês Axxon Group comprou a empresa. Um dos fundadores, Marcos Guerra, permanece detentor de 20% do capital da empresa indiretamente por meio da MAM Participações.
Há também a figura da Tolstoi Investimentos, a controladora da Guerra. Conforme o administrador judicial, com isso, serão três planos de recuperação judicial diferentes que serão votados na assembleia. O plano da Tolstoi é bem resumido, diz que a empresa vai pagar credores quando a Guerra distribuir os dividendos. A advogada de Marcos Guerra, Sandra Pistor, defende que o plano da MAM, tem fundamentos técnicos e contempla definitivamente a recuperação da Guerra. "De modo que os credores da guerra possam optar por este plano", destaca.
Já o advogado da Guerra, Ângelo Coelho, argumenta que a MAM não tem legitimidade para apresentar o plano em nome da Guerra. O caso está com a juíza Cláudia Rosa Brugger. Coelho adianta também que serão apresentados, no dia da assembleia, sugestões de aditamentos as plano. "Como modificação de taxas de juros no cronograma de credores, entre outros pontos", aponta.
Cronograma de pagamento
credores trabalhistas - recebem em 12 parcelas mensais, sendo a primeira paga 30 dias após a homologação
credores com garantia real (com hipoteca) - a empresa tem 36 meses de carência sem juros. após o período, efetua o pagamento em 24 parcelas semestrais com juros
credores quirografários (sem garantias) - quem tem menos de R$ 50 mil para receber, vai aguardar um ano e depois recebem em quatro parcelas semestrais. créditos acima de R$ 50 mil serão quitados a partir de 60 meses. após, recebem em 30 parcelas semestrais
credores de micro e empresas de pequeno porte - receberão em quatro parcelas semestrais. a primeira será paga 30 dias após o plano ser homologado