O ministro Edson Fachin aguarda a segunda lista de Janot instalado na sala que pertencia a Teori Zavascki. Com o apoio de dois juízes auxiliares, o novo relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) vai se debruçar a partir da próxima semana sobre o calhamaço de petições, que será enviado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para autorizar a abertura de inquéritos contra ministros, senadores, deputados, governadores e ex-presidentes. A entrega da lista no STF deve ocorrer entre segunda e quarta-feira.
Investigadores afirmam que a lista com base nas delações de 78 executivos da Odebrecht, que provoca pânico entre políticos em Brasília, será o "primeiro grande teste" de Fachin. Ele foi sorteado há um mês para substituir Teori, morto em um acidente aéreo, na relatoria da Lava-Jato e ainda se adapta à complexidade dos casos.
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Uma das medidas adotadas pelo magistrado foi trocar de gabinete. Depois do Carnaval, migrou do quinto para o terceiro andar do edifício anexo do STF, na ampla sala que era usada por Teori. Além de dispor de mais espaço para acomodar processos, o ambiente facilita o deslocamento até o plenário da 2º Turma, responsável pelos julgamentos da Lava-Jato.
Antes da mudança, o local passou por reforma. Em razão desses reparos, existe a dúvida entre assessores no STF se as petições e as dezenas de caixas com documentos das delações encaminhados pela PGR ficarão no gabinete de Fachin ou na sala-cofre do prédio principal do tribunal, usada na homologação dos acordos da Odebrecht.
No Supremo e na Procuradoria, discute-se a melhor maneira de transportar o material sem chamar atenção. O trajeto de um quilômetro pode ser cumprido em carros sem identificação. Também está em avaliação o uso de uma entrada privativa na Corte. A operação de deslocamento será fechada nos próximos dias, junto com a nova relação de Janot. Com reforço na equipe, os procuradores devem manter a rotina de trabalho no fim de semana. Além dos novos pedidos de inquérito, chegarão a Fachin solicitações de arquivamentos de algumas investigações e de remessas de casos a instâncias inferiores.
Para agilizar a análise das petições, as equipes do ministro e do procurador-geral estão em contato diário. O mesmo expediente foi adotado há dois anos, quando Janot entregou a Teori sua primeira relação de políticos que seriam investigados. À época, o relator levou três dias para abrir os inquéritos e levantar o sigilo. Agora, os prognósticos apontam de três a 10 dias.
– A primeira lista vinha das delações de Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa. A nova sai de mais de 800 depoimentos e mais de 70 delatores. É mais complexo – diz um experiente procurador.
As previsões também levam em conta a saída do Supremo de Márcio Schiefler, ex-juiz auxiliar de Teori e considerado o "arquivo" da Lava-Jato na Corte. No gabinete de Fachin, Ricardo Rachid tem função similar à que era exercida por Schiefler. A juíza Camila Plentz Konrath também assessora o novo relator. Especialista em direito penal e juiz federal no Paraná, Rachid já atuou na Lava-Jato em primeira instância e dispõe da confiança do ministro.
Na última semana antes do envio da lista de Janot, Fachin tentou manter a normalidade na agenda. Teve audiências com advogados, com o senador Telmário Mota (PTB-RR) e com a advogada-geral da União (AGU) Grace Mendonça. Na terça-feira, participou do julgamento que transformou em réu na Lava-Jato o senador Valdir Raupp (PMDB-RO). Na quarta, felicitou seu assessor, Miguel Gualano de Godoy, pelo lançamento do livro Devolver a Constituição ao Povo. Os passos de Fachin e de seus auxiliares são monitorados por políticos em Brasília. No Palácio do Planalto, a semana teve avaliações sobre o futuro dos ministros que serão alvo de inquéritos. Já no Congresso, que não votou temas importantes, o assunto dominante foi a Lava-Jato. Todos tentavam saber os nomes que virão na segunda lista de Janot.