Aquilo que era apenas suspeita, a estreita colaboração entre os serviços de informação norte-americano e brasileiro sobre terrorismo, está comprovada agora em documentos. Um alerta para a ação de simpatizantes do Estado Islâmico no Brasil, feito pelos Estados Unidos, está anexado ao processo que julga, no Paraná, oito brasileiros por planejarem atentados que deveriam ocorrer durante os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.
O alerta foi feito pelo adido do FBI (polícia federal norte-americana) na embaixada dos EUA no Brasil e repassado à Polícia Federal brasileira em um memorando. No texto, enviado por e-mail em 6 de maio de 2016, o policial norte-americano diz que gostaria de oferecer informações sobre pessoas baseadas no Brasil e que utilizam contas nas mídias sociais para expressar apoio ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante (Síria):
"O FBI estima que essas pessoas possam representar uma ameaça à segurança nacional e aos Jogos Olímpicos 2016 no Rio de Janeiro", ressalta o texto.
Segue-se uma lista de nomes de brasileiros simpatizantes do Estado Islâmico e suas contas no Google (e-mail), no Facebook e no Twitter. É o caso de Alisson Luan Baghdadi (codinome de Alisson Luan de Oliveira), Mohammed Zaid Duarte e outros. O FBI relata ter descoberto isso ao pesquisar mensagens e sites do Estado Islâmico - inclusive com verificação de quem mandava fotos de decapitações e as recebia.
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As investigações prosseguiram, a PF conseguiu infiltrar-se em grupos que trocavam mensagens terroristas pelos aplicativos Facebook, WhatsApp e Telegram e reuniu provas de que - pelo menos na intenção - brasileiros planejavam atos terroristas durantes a Olimpíada. As conversas incluíam planos de envenenar a água de reservatórios cariocas, de matar judeus com bombas, de decapitar reféns, de comprar armas (pelo menos uma foi mesmo adquirida, segundo a PF) e de assaltar bancos para financiar a causa islâmica.
Os indícios convenceram o juiz Marcos Josegrei, da 14ª Vara Federal de Curitiba, que ordenou a prisão de dez pessoas em julho de 2016, às vésperas dos Jogos, e mais três em dias posteriores. A ação foi denominada Operação Hashtag. Desses, quatro continuam presos em Presídios de Segurança Máxima espalhados pelo Brasil e os demais foram libertados mediante vigilância. Oito são réus em processo por promoção de organização terrorista (pena de cinco a oito anos de prisão) e realização de atos preparatórios de terrorismo (pena de três a 15 anos de prisão). Os artigos são da nova Lei AntiTerrorismo (13.260/2016), em vigor no Brasil desde o ano passado.
Os réus são: Fernando Pinheiro Cabral, Oziris Moris Lundi, Alisson Luan de Oliveira, Luís Gustavo de Oliveira, Levi Ribeiro de Jesus, Leonid El Kadre de Melo, Israel Pedra Mesquita (gaúcho) e Hortêncio Yoshitake. O processo está nas mãos do juiz e a sentença deve sair a qualquer momento.