A sequência de colisões que terminou em duas mortes na avenida Beira-Mar Norte, em setembro de 2002, em Florianópolis, foi entendida pelos jurados como sendo responsabilidade do empresário Aroldo Carvalho Cruz Lima, conhecido por comandar casas noturnas na Capital. O júri popular, que começou às 9h e seguiu até as 23h08min desta terça-feira, terminou em condenação para o réu: ele recebeu sentença 7 anos de prisão em regime semiaberto, mas poderá recorrer em liberdade.
Segundo a denúncia do Ministério Público, Aroldo dirigia uma BMW em alta velocidade quando acertou a traseira de um Audi conduzido por Rafael Lucca Geraldo, 23 anos, e que tinha Vitor Hugo Marins Filho, 24 anos, como passageiro. Com o impacto, o Audi ficou desgovernado e bateu em um poste, além de atingir um Golf. Rafael e Vitor morreram no acidente. O motorista do Golf ficou ferido.
Mesmo sem comprovação do teste do bafômetro, que não foi realizado no dia, o promotor Andrey Cunha Amorim sustentou a tese de que Aroldo dirigia embriagado na noite do acidente. Depoimentos de policiais indicaram que o réu apresentava sinais de embriaguez. Na avaliação do promotor, houve o chamado dolo eventual: quando não há intenção, mas assume-se o risco de provocar a morte. Amorim ainda apontou repetidas vezes que teria havido um "racha" entre os envolvidos antes da tragédia.
Interrogado no júri, o empresário afirmou que permaneceu por pelo menos uma hora no local do acidente, acompanhado da mulher, sem deixar de prestar os esclarecimentos necessários. Ele negou ter sido abordado por qualquer policial para fazer o teste de bafômetro e garantiu que não estava alcoolizado no dia dos fatos.
– Hoje eu estaria preparado para este tipo de acontecimento, poderia até orientar alguém. Mas em nenhum momento recebi qualquer tipo de orientação sobre o que fazer. Nunca fui beber em bar com os amigos. Minha vida é do trabalho para casa, da casa para o trabalho – afirmou.
O empresário ainda afirmou que só deixou a avenida Beira-Mar quando o pai de Vitor, uma das vítimas da colisão, chegou ao local do acidente. A alegação foi de que não suportou ver o pai do jovem testemunhar a situação.
Embates entre acusação e defesa
O advogado de defesa, Cláudio Gastão da Rosa Filho, contestou o trabalho da perícia oficial no processo, questionou a credibilidade de parte das testemunhas ouvidas na investigação e também colocou em dúvida a atuação da primeira juíza a conduzir o caso. Um perito contratado pela defesa, reforçou Gastão, apontou versões diferentes sobre a dinâmica das colisões. A tese apresentada pelo réu era de que o Audi ocupado pelas vítimas cruzou a pista repentinamente, vindo a causar a colisão.
– Ele (Aroldo) era recém-casado, estava com a mulher, no melhor momento da vida. Alguém acredita que ele colocaria a própria vida e a vida da esposa em risco? – perguntou o advogado.
O promotor Andrey Cunha Amorim, por outro lado, reiterou a legitimidade da perícia oficial e dos depoimentos de testemunhas e policiais ouvidos no processo. O promotor ainda questionou o fato de o empresário não ter sido submetido ao teste do bafômetro e alegou repetidas vezes que Aroldo era privilegiado por ter boa condição financeira e excelentes advogados.
– Quem não sabe que nesse país há dois tipos de processos, o processo dos ricos e o processo dos pobres? – questionou Amorim, mencionando recursos judiciais que arrastaram o processo por uma década e meia.
Como a sentença anunciada nesta terça é de primeira instância, ainda cabe recurso ao acusado.
Familiares se abraçam na saída
Familiares das vítimas repercutiram o desfecho do júri discretamente ao fim da sessão. Parentes e amigos de Rafael e de Vitor trocaram abraços e mensagens de apoio na saída do fórum.
– A gente sabia que ele poderia recorrer e apelar em liberdade. O mais importante era que ele fosse a julgamento e respondesse pelo que aconteceu – desabafou Alba Regina Taranto, mãe de Vitor.
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"Nunca fui beber em bar com os amigos", diz empresário levado a júri por acidente em Florianópolis