Um acidente de trânsito por volta das 20h de quarta-feira, 1º de março, em Cachoeirinha, expôs um problema do município: a falta de ambulâncias do Samu para atender à população. Israel Oliveira Muller, 30 anos, pedalava na Avenida General Flores da Cunha, na Vila Bom Princípio, e se chocou contra a porta direita, recém aberta, do carro de Bruna Bernardo Garcia, 26 anos, que havia parado para que sua amiga desembarcasse. Com o impacto, o rapaz caiu no chão e ali ficou deitado, aguardando socorro. A ajuda só chegou uma hora e meia depois – e vinda de Gravataí.
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Israel voltava de bicicleta de Gravataí, onde havia feito uma entrega, e pedalava na via, perto da calçada. Bruna, que também trabalha em Gravataí, havia recém estacionado o veículo para que sua amiga saltasse e fosse em direção à parada de ônibus. Quando abriu a porta, o acidente aconteceu.
– Levei um susto. Deu um estouro. (Ele) estava embalado, com uma velocidade alta. Sem proteção, capacete, nada – conta a jovem, maquiadora.
– A sinaleira fechou, fui indo e, de repente, uma porta se abriu. Não deu para ver mais nada. A parte de cima da porta, a quina, bateu no meu pescoço e no meu ombro – explica o rapaz, professor de música que, com a esposa, trabalha na venda de lingerie.
Socorro
Depois do acidente, Israel se jogou no chão, onde ficou deitado durante a uma hora e meia de espera por atendimento. Bruna ligou para os familiares do rapaz, que chegaram em seguida. Eles, além da amiga da maquiadora, ligaram seis vezes para o telefone 192, do Samu, mas ficaram frustrados com as respostas.
– Todo mundo ligou, mas não teve resultado. Falavam que não tinha ambulância – relata o músico.
Segundo Bruna e Israel, um atendente chegou a desligar na cara da mãe do rapaz. De casa, a tia dele também buscou ajuda por telefone. Teve nova resposta negativa e ainda ouviu que, da próxima vez, deveriam "cuidar em quem votavam" nas eleições.
O socorro, por fim, chegou cerca de uma hora depois que tudo havia acontecido. Por telefone, uma atendente informou que recém havia sido liberada uma ambulância em Gravataí, vinda do Hospital Dom João Becker. Israel foi encaminhado ao hospital Padre Jeremias, em Cachoeirinha.
Lá, fez exames e foi medicado. Tudo em 50 minutos – chegou às 21h40min e saiu às 22h30min.
– No fim das contas, o atendimento no hospital foi mais rápido do que o da ambulância. Nós vemos notícias de impostos pagos, mas não vemos retorno – queixa-se.
Reclamação
Indignada com a situação, Bruna postou um desabafo em seu perfil no Facebook. A publicação já alcançou 2 mil reações, 2 mil compartilhamentos e 400 comentários.
"Gente, isso é um absurdo. Já se passou uma hora e meia e ainda nada. Uma enfermeira e um médico que estavam passando no local prestaram os primeiros socorros, tentaram contato direto com o hospital Padre Jeremias e nada foi feito", escreveu.
Uma técnica de enfermagem que trabalha na prefeitura municipal de Cachoeirinha expôs ainda mais a situação das ambulâncias no município.
"Trabalho no Samu de Cachoeirinha, e a nossa ambulância está há dias parada por falta de manutenção. Também peço que compartilhem. Isso é apavorante, um absurdo. A população de Cachoeirinha está totalmente desassistida. Deveriam dar prioridade para nós. Nosso serviço não pode, de jeito nenhum, parar", escreveu.
Prefeitura diz que nunca faltou ambulância
Ao contrário dos relatos dos leitores, a Secretaria Municipal da Saúde de Cachoeirinha afirmou que o município nunca ficou sem ambulâncias.
Segundo a assessoria de imprensa, o que pode ter acontecido no momento do acidente é que o Samu da cidade estivesse em outro atendimento e, por isso, não estava disponível. Porém, a assessoria não repassou dados sobre qual outro atendimento seria este.
Ainda conforme a Secretaria, todos os cinco veículos de socorro de Cachoeirinha estarão em funcionamento ainda neste final de semana. "São veículos antigos, que precisam de manutenção frequente. Mas sempre houve veículo à disposição", informou, em nota.
A prefeitura afirma ter encaminhado a compra de duas novas unidades do Samu e garante estar em tratativas para conseguir mais uma, junto ao Ministério da Saúde.
Produção: Juliano Zarembski e Shállon Teobaldo