Após integrar durante dois anos a Operação Lava-Jato, na força-tarefa montada em Brasília para investigar os suspeitos com foro privilegiado, o procurador da República Douglas Fischer, gaúcho, se preparava para dias mais tranquilos. Tinha voltado a Porto Alegre para atuar na Procuradoria Regional, em segunda instância, distante do burburinho de Brasília e dos holofotes.
Mal desfez as malas e tudo mudou na última semana, quando foi convidado a integrar o setor de Cooperação Internacional da Procuradoria Geral da República (PGR). A unidade, encarregada de repassar e coletar provas de crimes que envolvam outros países, é coordenada pelo experiente procurador Vladimir Aras.
O foco do setor é combate à lavagem de dinheiro e à corrupção, temas centrais da Lava-Jato. O que não impede que a unidade atue em outras operações. Passam por ali os acordos de recuperação de dinheiro desviado de estatais, como a Petrobras, grande parte aplicada em bancos estrangeiros.
Para convencer esses estrangeiros de que é necessário devolver os valores "lavados" no Exterior, o compartilhamento de provas é fundamental. Isso inclui traduções de documentos inteiros. Foi assim, por exemplo, com os acordos de colaboração firmados com a PGR pelos 78 executivos da empreiteira Odebrecht. Todas as delações foram enviadas aos países onde a construtora também subornou políticos em troca de prioridade nas obras.
Como se vê, Douglas Fischer vai trocar uma função trepidante - a de montar denúncias contra políticos e empreiteiros, como fazia quando ajudava diretamente o Procurador-Geral, Rodrigo Janot - por outra mais cerebral, mas não menos importante. É uma peça fundamental no Ministério Público Federal (MPF).
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