Desde o dia 9 de janeiro, quando foram entregues em solenidade no Rio Grande do Sul com a presença do presidente da República, Michel Temer, 14 das 15 ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) estão paradas na Serra – mais da metade delas por algum defeito. Somente Bento Gonçalves conseguiu resolver os entraves burocráticos e colocar o veículo para circular na última sexta-feira, dia 17.
As dificuldades variam da demora no emplacamento a falhas em peças e notas fiscais. Levantamento do jornal Zero Hora apontou que 80% de todas as 61 ambulâncias recebidas pelo Estado ainda não rodaram 1 km sequer. Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que "os municípios devem seguir os trâmites necessários para fazer a transferência. Isso inclui transferência da documentação do governo federal para o gestor local, pagamento do seguro obrigatório, confecção das ambulâncias seguindo os padrões do Samu e o devido emplacamento".
O contrato determina que a população não fique desassistida no período. Porém, o órgão não comentou o atraso no envio dos termos de posse nem os defeitos apresentados pelos veículos. Em Farroupilha, por exemplo, a bateria estava com problema e o carro não conseguiu chegar. Foi preciso trocá-la no meio do caminho para então avançar nas questões legais, que não estão totalmente resolvidas.
– Tivemos de comprar uma nova bateria e ainda não finalizamos o seguro. Estamos com a ambulância, que vem substituir a atual, bastante desgastada, mas não podemos usar. Talvez em uma semana – projeta a secretária de saúde da cidade, Rosane Rosa.
Em Canela, o veículo tinha, além da bateria vencida, o odômetro (que mede a velocidade) estragado. Depois de pedir uma revisão completa, o secretário de Saúde local, Jean Spall, esbarrou em um detalhe burocrático que permanece até agora. Na nota fiscal, consta que a aquisição é de um furgão com capacidade para até três passageiros.
O Detran não aceita, pois diz que a característica correta é ambulância de sete lugares. Enquanto isso, o Samu opera no município da região mais turística da Serra com uma ambulância branca, cedida pela prefeitura.
– Foi aberto um processo no CRV para que seja tomada alguma providência. Ela está aqui, em perfeitas condições, estacionada – lamenta Spall.
Ao anunciar quais cidades seriam beneficiadas, o secretário estadual da Saúde, João Gabbardo, garantiu na ocasião que as ambulâncias estariam prontas para o uso. Os gestores suspeitam que as falhas mecânicas decorrem do tempo que os furgões ficaram parados antes da doação – a maioria foi fabricada em 2015.
O Ministério da Saúde não confirma, e também não desmente a hipótese. Gabbardo assegura que os percalços estão "superados" e que os consertos necessários foram realizados pelo fabricante sem qualquer custo. A demora frustra planos como o de Carlos Barbosa, que deseja utilizar a ambulância do Samu existente hoje no município para deslocamentos e transferências, e destinar a nova somente para casos graves.
– Temos uma média de 18 a 20 atendimentos mensais. Gostaríamos de ter uma (a atual) para outros serviços – afirma a secretária de Saúde, Letícia Lusani.
* Com informações de Zero Hora