Como se perder uma filha não fosse sofrimento suficiente para uma mãe, a vendedora desempregada Mariane Jaqueline Felipe, 33 anos, deparou com uma situação definida por ela como "desesperadora".
Um dia após a morte da pequena Brenda Felipe Marcolan, três anos, causada por um tumor cerebral, no dia 29 de janeiro, Mariane visitou o túmulo da filha no Cemitério Municipal Pio XII, Bairro Lomba da Palmeira, em Sapucaia do Sul. Ao chegar, notou que algumas das coroas de flores haviam sido furtadas, e o túmulo estava violado.
– Estava tudo revirado e tentaram arrombar o túmulo. Paguei quase R$ 3 mil só pelo jazigo, e é dessa forma que somos tratados. Isso é um desrespeito com os familiares – desabafa Mariane.
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Abandono
Túmulos ficam escondidos no meio do matagal que tomou conta da área de cerca de 600m de extensão. Para onde se olha, há lixo amontoado pelo chão. Caminhar pelo local, só com o nariz fechado, pois o cheiro beira o insuportável. Despachos religiosos se misturam ao lado das sepulturas, e até um cavalo comia milho dentro de um mausoléu, que, assim como uma grande quantidade de túmulos, estava depredado.
A reportagem visitou o cemitério na manhã de 9 de fevereiro e encontrou-o abandonado. No mesmo dia, uma equipe da Secretaria Municipal de Obras (Smop) de Sapucaia do Sul fazia a capina da parte de baixo do cemitério. Durante uma hora, a reportagem constatou um dos trabalhadores aparando o mato, e os demais, sentados debaixo de uma árvore.
Segundo Mariane, a insegurança também se instalou no cemitério. Sem dois portões e com iluminação precária, depois das 18h, entrar ali é arriscar-se.
– Como tem muito mato, é lugar fácil para os assaltantes se esconderem, e usuários de drogas, também. Fui na prefeitura e disseram que o município não tem dinheiro para melhorar a segurança do local. Que, se eu quisesse, deveria contratar eu mesma. Perguntei para a pessoa que me atendeu: "tu gostaria de enterrar um familiar teu no meio desse lixo e descaso?" Não falaram nada – contou Mariane.
Um coveiro que trabalha há quatro anos no Pio XII e preferiu não se identificar disse que o cemitério não costuma receber cuidados mensais. Desde Finados, nada foi feito.
– Antigamente, não era assim. Limpavam todo mês – disse ele.
Lembranças
A pequena Brenda, como definiu o avô materno, Juarez Felipe, 54 anos, era uma menina que cativava a todos em qualquer lugar que chegasse. E é dessa forma que a família quer se lembrar dela. O principal pedido de Mariane é para que a filha e as demais pessoas que estão enterradas no Pio XII possam descansar em paz. E que seus familiares tenham um lugar limpo e seguro para visitá-los.
– Não sei de onde estou tirando forças. Tenho mais dois filhos que ainda estão em choque com tudo isso. As famílias que têm seus entes queridos aqui não merecem conviver com essa negligência da prefeitura – indigna-se.
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Prefeitura diz que limpa o local
O prefeito de Sapucaia, Luis Rogério Link, visitou o cemitério Pio XII no dia 1° de fevereiro e constatou a situação de abandono. Desde então, solicitou da Secretaria de Obras um cronograma para a limpeza do local – a periodicidade desse trabalho não foi informada à reportagem.
Apesar do cenário encontrado pelo DG, a prefeitura garante que tem limpado regularmente os cemitérios da cidade. Duas equipes estariam realizando a roçada, ao mesmo tempo, nos cemitérios João XXIII, no Bairro Primor, e no Pio XII.
Ainda de acordo com a prefeitura, também está em andamento um projeto de cercamento e manutenção dos cemitérios, sem prazo para ser realizado.
Produção: Shállon Teobaldo