As perdas com o número maior de feriados em dias de semana ao longo de 2017 e a ocorrência de mais datas comemorativas às terças ou quintas-feiras, que muitas vezes levam a folgas esticadas, já tem sido calculadas por importantes setores da economia nacional. Indústria e varejo, por exemplo sustentam que o calendário mais recheado de períodos de interrupção da produção e restrição ao comércio causa prejuízos às duas atividades.
Estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) calcula que as perdas das fábricas no país, tanto pelo que deixam de vender quanto pelo custo de ter de parar e retomar a atividade nas linhas, chegarão a R$ 66,8 bilhões este ano, valor equivalente a 4,4% do PIB do setor. No ano passado, a redução teria sido de R$ 55,3 bilhões, 4% da riqueza potencial.
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A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) calcula que, para o varejo nacional, o dano financeiro soma R$ 10,5 bilhões, 2% acima do ano passado.
No RS, a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL) calculou o reflexo de 11 feriados em dias da semana ao longo do ano e 12 em Porto Alegre (o órgão contabilizou o Carnaval, que tem ponto facultativo). As perdas são calculadas em R$ 1,26 bilhão à economia para cada dia parado, sendo R$ 160 milhões no varejo. Durante todo o ano, o impacto seria de R$ 8,82 bilhões. Para as lojas, R$ 1,12 bilhão.
Desde 2008, não havia tanto feriado em dias úteis no Brasil
Para fazer a sua projeção, a Firjan levou em consideração a existência de nove feriados nacionais e cinco pontos facultativos, sendo que três destes últimos (segunda e terça-feira de Carnaval e Corpus Christi), por tradição, também se tornaram, em regra, dias sem jornada de trabalho. O calendário levado em consideração pela entidade não contabiliza as datas comemorativas estaduais e municipais e os enforcamentos.
Das 12 datas que compõem o cálculo, em 2017 uma a mais cairá em dia de semana. Além disso – ponto que não entra na conta mas potencializa as perdas –, haverá uma data a mais com possibilidade de enforcar um dia útil colado ao fim de semana.
– Este é o ano com o maior número de feriados em dias úteis desde 2008 – diz Jonathas Goulart Costa, coordenador da divisão de estudos econômicos da Firjan, acrescentando que descontinuidades na produção minam ainda mais a competitividade da indústria do país.
O assessor econômico da Fecomércio-SP, Altamiro Carvalho, explica que, no varejo, os setores mais prejudicados são os de não duráveis e semiduráveis, a exemplo de postos de combustível, lojas de vestuário, farmácias e perfumarias e supermercados. No caso de itens de maior valor, de automóveis a eletroeletrônicos, as compras são mais planejadas e, devido aos feriados, apenas postergadas.
– Sofre mais quem depende da circunstância do dia a dia, setores que precisam da venda por impulso. Por exemplo, quem olha uma camiseta em uma loja e tem vontade de comprar. Se a loja estiver fechada, essa compra não se efetiva. No caso dos combustíveis, as pessoas deixam de se deslocar para trabalhar. O transporte de mercadorias também perde a frequência – ilustra Carvalho.
Nos setores mais sensíveis, prossegue Carvalho, em uma sexta-feira que sucede um feriado na quinta-feira, a comercialização cai, em média, 10%. O economista lembra ainda que, apesar de em algumas cidades existir a possibilidade de o comércio abrir nos feriados, os custos são altos. O adicional para os funcionários pode chegar a 100% por hora de jornada. No caso de encargos sociais, 37% a mais. Isso, observa ele, inviabiliza principalmente os pequenos comerciantes e faz com que apenas as maiores redes consigam abrir as portas.
Em um período em que o setor público luta para reequilibrar as suas contas, o grande número de feriados também afeta a arrecadação, sustenta a Firjan. Neste ano, serão R$ 27,6 bilhões a menos em tributos federais, estaduais e municipais, aponta a federação.
Remanejamento de datas é alternativa
Cientes da pouca viabilidade de propostas que eliminassem feriados, entidades da indústria e do comércio propõem alternativas que poderiam mitigar as perdas de produção e vendas. A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), por exemplo, entende que datas comemorativas que caiam em dias como terças e quintas-feiras, por exemplo, sejam deslocados para segundas e sextas-feiras, como forma de evitar os famosos enforcamentos de dias úteis, com o prolongamento dos feriadões.
Outra alternativa seria fazer com que meses com mais de um feriado tivessem folgas concentradas em apenas um dos dias, como forma de preservar o número de dias úteis. Projeto de lei nesse sentido tramita a passos lentos no Congresso desde 2011.
– Alguns países fizeram reformas em seus calendários e extinguiram alguns feriados como forma de aumentar o número de dias produtivos – cita Jonathas Goulart Costa, coordenador da divisão de estudos econômicos da Firjan, referindo-se, por exemplo, a Portugal, que em 2011 eliminou quatro datas.
Para o assessor econômico da Fecomércio-SP, Altamiro Carvalho, não é factível reduzir o número de feriados no Brasil. A impopularidade da medida, avalia, acabará abortando a alternativa. O primeiro passo, entende ele, seria evitar de criar novas datas que restrinjam a atividade econômica.
No caso do comércio, a entidade também defende a possibilidade de pelo menos se encontrarem alternativas para diminuir os custos para quem abre durante os feriados e, em alguns locais, reverter a proibição para que lojas operem.
Fecomércio-SP e Firjan sustentam que já tentaram fazer uma comparação da situação brasileira com a de outros países. As duas entidades, porém, alegam que o cotejo fica prejudicado porque, apesar de o número de feriados nacionais não ser muito diferente dos Estados Unidos, por exemplo, em alguns dias alusivos a episódios históricos, passagens religiosas ou em homenagem a personagens considerados importantes, há permissão para a continuidade da atividade econômica.
Sem remédio para a queda das vendas
A circulação menor de pessoas nos feriados faz o setor de farmácias e perfumarias um dos mais prejudicados no varejo, mostra o levantamento da Fecomércio-SP. O segmento deve deixar de vender cerca de R$ 1,55 bilhão este ano, 7% acima de 2015. O cenário projetado pela entidade confirma a percepção do diretor-presidente da Agafarma, Wilson Galli. A rede conta com quase 500 lojas de mais de 300 diferentes proprietários.
– É um desastre. Preocupa muito. A cidade fica vazia e percebemos a diferença no consumo das pessoas – diz Wilson, que, brincando, admite gostar de feriados, mas não como comerciante.
Mesmo sem números precisos, Galli arisca que, nas datas comemorativas, o movimento cai cerca de 40% e a queda nas vendas é potencializada em feriadões. Ao mesmo tempo, quem opta por abrir tem de pagar o dobro pela hora trabalhada.
Para o empresário, não há remédio para as vendas que deixam de ser realizadas. Ou seja, em regra não é uma compra apenas postergada. Além de medicamentos, as farmácias têm hoje cerca de 40% das saídas concentradas em itens de higiene e beleza.
– É como em um dia de muita chuva, que as pessoas evitam de sair. A gente fica esperando que as compras ocorram no dia seguinte, mas isso não acontece – observa o empresário.
Quem pode perder mais no varejo em 2017
Supermercados - R$ 2,98 bilhões
Farmácias e perfumarias - R$ 1,55 bilhão
Lojas de vestuário e calçados - R$ 1,07 bilhão
Lojas de móveis e decoração - R$ 0,97 bilhão