Ao mesmo tempo em que entristece os gremistas mais saudosos, o cenário de ruínas em que se transformou o Olímpico Monumental tem gerado uma onda de insegurança nas redondezas do estádio. Um ano depois de mostrar em uma reportagem que o Olímpico atrai moradores de rua e usuários de drogas, o Diário Gaúcho retornou ao local e identificou que a situação piorou.
Há dois anos desocupada, a área de 8,5 hectares onde está o estádio, no Bairro Azenha, em Porto Alegre, tem sido utilizada por moradores de rua e usuários de droga. Sem previsão de implosão, o Monumental, palco de grandes conquistas tricolores, tornou-se um abrigo atrativo para indivíduos que amedrontam as redondezas. A bancária aposentada Berenice Rodrigues, 61 anos, passou a viver trancada em casa com grades nas portas. Os fundos do terreno dela fazem divisa com o estádio. Em novembro, ela teve o pátio invadido por um homem que estava dentro do Olímpico e arrombou dois carros, furtando o som de um e a bateria de outro.
– Eu fazia caminhadas no entorno do estádio. Agora, não dá mais. Às 19h, tem que se recolher, ficou perigoso – diz Berenice.
– A gente vive à mercê dessas pessoas (que frequentam o estádio) – define a dona de casa Ione Ferreira da Silva, 53 anos.
Vizinha de Berenice, ela conta que ouve à noite barulhos de movimentação e bagunça dentro da área do Olímpico.
Noite
Na quarta-feira passada, ao meio-dia, a reportagem flagrou dois andarilhos dentro do terreno do estádio. O primeiro foi visto com uma sacola de entulhos coletados em partes dos escombros. O segundo estava tentando sair pelas grades da Avenida Carlos Barbosa.
O flagrante feito pelo DG é algo comum para os moradores dali. A pensionista Rita Silveira Rodrigues, 76 anos, que vive em um prédio na Avenida Carlos Barbosa, bem em frente a uma das laterais do estádio, se acostumou a ver gente pulando as grades para levar material. Qualquer entulho é atrativo:
– Carregam até porta. À noite, isso ferve.
Companheiro de Ione e gremista, Fernando Machado da Silva, 70 anos, frequentava o estádio e lamenta ver o Monumental neste estado:
– É triste. Dói ver tudo abandonado.
Moradores criaram grupo no WhatsApp para se defender
Na tentativa de se proteger, moradores da Azenha criaram um grupo no WhatsApp para trocar mensagens sobre movimentações suspeitas e que possam intimidar.
–É uma espécie de segurança comunitária. A situação piorou muito de um ano para cá. O bairro não era assim – diz o professor Marcelo Xavier, 46 anos, que sempre morou ali.
Representando os moradores, ele se reuniu em dezembro passado com integrantes do 1º Batalhão de Polícia Militar (BPM) para reivindicar mais segurança. À frente do 1º BPM, o tenente-coronel Alexandre Brite da Silva reconhece que a violência tem aumentado na região. Segundo ele, usuários consomem drogas dentro do estádio e importunam os vizinhos. Ele afirma que, após a reunião, o patrulhamento no local foi intensificado.
Titular da 2ª Delegacia de Polícia, Cesar Carrion reconhece que a Carlos Barbosa é uma das vias do entorno do estádio onde ocorre a maioria dos delitos, principalmente, roubo a pedestre e a comércio.
Para o clube, "não tem o que fazer"
No Estádio Olímpico, trabalham 11 seguranças divididos em três turnos. O assessor especial da presidência do Grêmio, Luiz Moreira, admite que já foram flagrados usuários de drogas e andarilhos dentro do terreno. Segundo ele, os seguranças fazem várias rondas por dia:
– Realmente, demoliram aquela parte de trás (na Avenida Carlos Barbosa). Mas não tem o que fazer, como vamos entregar (para a OAS) não faz sentido investir ali.
Por meio da assessoria, a Construtora OAS informou que a empresa tem ciência de que o estádio, por estar sem manutenção em dia, “é passível de sofrer degradação”. A empresa explica que o Olímpico pertence ao Grêmio. Porém, o clube não exerce mais nenhuma atividade no estádio e aguarda a conclusão das negociações com a OAS para efetuar a troca de ativos com a Arena, conforme contrato.
Rever estudos
Em 2012, um Estudo de Viabilidade Urbanística foi aprovado pela prefeitura, que prevê a construção de torres residenciais e de escritórios, um shopping e uma praça pública, requalificando e reurbanizando a área. Porém, a OAS já admite que, se o negócio com o Grêmio for concretizado, terá de "rever seus estudos e interesses, pois o mercado sofreu muitas modificações".