As crises que surgiram neste primeiro mês de governo do prefeito de Caxias do Sul, Daniel Guerra, parecem não abalá-lo. Ele garante que a saúde não será afetada em uma eventual paralisação dos médicos ou em um pedido de demissão em massa da categoria. Há alternativas já planejadas, que ele prefere não antecipar. No caso da polêmica abordagem aos indígenas durante a Operação Centro Legal, Guerra diz que um plano será elaborado para atendê-los, mas não condena a ação da Guarda nem a postura do secretário de Segurança – inclusive, elogia a "dedicação" da equipe.
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Confira os principais trechos da entrevista concedida por telefone:
Pioneiro: Os médicos terão de bater ponto a partir de 1º de março. O que será feito em caso de paralisação ou em demissão em massa?
Daniel Guerra: Nós temos que garantir o atendimento à nossa população e estamos prontos para isso, Acredito que a maioria deles (médicos) já compreendeu o momento e também que isso é importante inclusive para eles. Como disse bem o secretário (da Saúde), haverá, sim, a partir desta data a obrigatoriedade do cumprimento integral bem como o ponto.
O senhor disse que estão preparados. Como?
Vamos trabalhar com o que é fato. Neste momento, houve um diálogo do secretário da Saúde com toda a categoria, diretamente com todos os servidores, expondo a realidade do município, a expectativa da população e a necessidade do momento. As questões que tu pontuas são apenas conjecturas e como conjecturas a gente não gostaria de partilhar. Mas por termos a responsabilidade de garantir o atendimento e por ser a saúde a prioridade da nossa administração, nós temos planos de contingência para qualquer uma das situações que vierem a ocorrer.
Qual é a carência de médicos hoje?
O secretário Darcy já posicionou, tem feitos novos levantamentos e a gente tem, inclusive, concurso em andamento para que possamos chamar médicos para suprir aquelas vagas que precisam ser ocupadas. Concluindo os levantamentos, posteriormente ele partilhará com a gestão.
Será feito concurso ou tem em vigência?
Tem em vigência. Tem até a possibilidade de chamamento de 80 profissionais.
Essa seria uma das alternativas caso os médicos peçam demissão?
Dentre outras alternativas.
Quais são essas outras alternativas?
No nosso governo, a prioridade é a saúde e não permitiremos em hipótese alguma que haja qualquer caos na saúde. Temos o governo todo pronto para responder à altura as demandas que vierem para garantir o atendimento e, por isso, os médicos vão cumprir na íntegra o horário como todo e qualquer trabalhador neste município e, principalmente, como todo e qualquer servidor. Para nós, não existe o mais ou o menos importante, todos são importantes: da pessoa responsável pela limpeza ao médico, ao procurador. Todos são igualmente importantes.
Contrato emergencial seria uma alternativa?
Também. Terceirização, também. Tem medidas que estão previstas no contingenciamento de uma eventual situação.
No caso dos indígenas, o senhor assistiu ao vídeo da abordagem da Guarda Municipal? O que o senhor achou da abordagem?
Sim. Primeiramente, tenho que destacar que esta administração terá um braço muito duro e firme com quem precisa. Me refiro e me dirijo aos traficantes, aos homicidas, aos corruptos de gravata. As minorias, as pessoas em vulnerabilidade precisam do braço da acolhida. Não só acolher, mas encaminhar e auxiliar para que as pessoas possam melhorar as suas vidas. Com isso, não queremos e não iremos compactuar com ilegalidades. E para isso temos essa ação em conjunto com a Secretaria de Segurança e Proteção Social, Fundação de Assistência Social. A Operação Centro Legal traz o contexto de que precisamos fortalecer o comércio legal e os empregos da nossa cidade e trazer para a formalidade quem está na informalidade.
A secretária de Urbanismo, Mirangela Rossi, disse hoje (terça-feira) durante a reunião com os índios que a instrução era conversar e não recolher o material e o o secretário da Secretário da Segurança, José Francisco Mallmann, dizia nos últimos dias que a ação da Guarda estava correta. Qual a é orientação da administração?
Nós precisamos, e isso já está determinado, sentar junto com os indígenas, com a Funai, com o Ministério Público Federal e planejar um novo acordo, que venha, inclusive, a contribuir e valorizar a cultura indígena. A questão dos índios, do seu artesanato, em momento algum foi questionada. Isso precisa estar claro. O que entra na questão, seja índio, seja caxiense, seja farroupilhense, seja haitiano, seja europeu, seja americano, e que estiver no centro com mercadoria sem procedência legal, é que ele está em ilegalidade. Nestas situações, a lei tem protocolo de como deve se agir. Mas o objetivo primeiro da administração foi de dialogar, não se teve uma operação surpresa, de chegar e recolher tudo. Em nenhum momento foi essa a orientação da administração e não é. Tanto que um por um foi explicado na semana passada. Precisamos devolver a calçada à população, o que é público é público. Seja quem for que esteja explorando indevidamente ou ilegalmente a via pública, o Código de Posturas do Município é muito claro. Em caso de obstrução ou uso indevido, se enquadra em ilegalidade, e pior ainda quando há comércio de produtos sem origem ou comprovação da aquisição. Nossa administração não compactuará com nenhuma questão de ilegalidade e, por isso, o primeiro passo não foi sair recolhendo. O objetivo é formar a cultura do respeito e do diálogo, mas também da legalidade.
Mas vocês tiveram que rever a decisão e, nessa reunião, a secretária pediu desculpas aos indígenas, e as mercadorias foram devolvidas. Ter que rever uma decisão e admitir o erro não demonstra fragilidade da operação? Isso deixa o secretário Mallmann fragilizado?
De forma alguma. Os secretários todos que estão atuando no Centro Legal agiram dentro da dinâmica desta que falei, que é no intuito da cultura da paz, do respeito, mas da legalidade. Quando a secretária do Urbanismo manifesta um pedido de desculpas, ela o faz no sentido da compreensão da situação que o sentimento exposto pelos indígenas na reunião. Não é um pedido de desculpas pela operação. Não é um pedido de desculpas desaprovando a operação. Ela faz um pedido pelo sentimento da manifestação, porque onde os índios foram ouvidos na reunião, e é um sentimento de desculpas para demonstrar o acolhimento da administração.
O pedido de desculpas não é pela abordagem da Guarda?
O trabalho da Guarda, temos que destacar, eles tiveram o cuidado e a dedicação diante não só da Operação Centro Legal, mas também da operação na Estação Férrea, também em outros focos que anteriormente a administração era omissa e que nós estamos fazendo o enfrentamento, como os focos de baderna que há anos não eram resolvidos. Com a dedicação da Guarda estamos sanando esses problemas e iremos sanar outros focos, por isso das operações muito bem capitaneadas pelo secretário Mallmann, o qual nós temos a honra e orgulho de dizer que alguém deste quilate, desta grandeza profissional esteja nessa missão de ser secretário municipal, alguém que tem as credenciais para estar no ministério de um governo federal, assim como já esteve em uma secretaria de Estado.
Administração
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Juliana Bevilaqua
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