Na década de 1950, quando o vai e vem de ônibus não era fato corriqueiro na cidade, Luiz Antão da Rosa, o "seu Chocolate", corria para abanar cada coletivo que passava pelas ruas.
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– Desde guri, meu sonho era ser motorista de ônibus. Criei-me no (bairro) Boi Morto e ficava encantado quando passavam por lá. Na casa da minha avó, eu brincava com latinhas e fazia de conta que dirigia – lembra seu Chocolate, hoje, o mais antigo motorista do transporte coletivo de Santa Maria em atividade, com 69 anos de vida e 47 de profissão.
Antes de consolidar seu desejo profissional, ele trabalhou como auxiliar de padaria, engraxate, jornaleiro e chegou a prestar serviço militar obrigatório. Assim que conseguiu juntar economias, fez a carteira de habilitação.
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Em maio de 1969, o sonho que, antes pegava carona, passou a ditar a direção das rotas de sua vida. A primeira delas, foi a linha Vila Schirmer-Itararé.Nos 47 anos em frente ao volante, seu Chocolate se popularizou. Até o apelido ganhou no trabalho. Segundo o veterano, amigos passaram a chamá-lo assim em função de ele ter o costume de distribuir chocolates para as moças, quando jovem.
A carreira de motorista também levou o profissional a percorrer diversas ruas e regiões da cidade em diferentes itinerários. Só na linha da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) foram 12 anos de trabalho. Mas foi na Vila Oliveira, no bairro Passo D'Areia, onde ficou mais conhecido. É lá que ele mora há décadas com a mulher, Ondina, com quem teve sete filhos, 22 netos e seis bisnetos.
Atualmente, ele faz a linha Parque- Riachuelo. Já na entrada do coletivo, dá para perceber o diferencial do "ônibus do seu Chocolate": ele sempre está perfumado e com uma boa música tocando. Em uma sacola, ele mostra o estoque de frascos de cheirosas essências que espalha pelo veículo.
O melhor motorista
Na frenética disputa diária das ruas, onde divide o espaço com carros, motos, bicicletas e pedestres, o experiente motorista mantém a calma, a pontualidade e a seriedade. Sabe precisar a hora de chegada em cada ponto e guarda tabelinhas que ele mesmo faz, com as rotas e os horários, para distribuir aos passageiros que precisam de orientação.
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Contudo, diz que é de pouca conversa e que não tem pressa ao dirigir. Seu maior orgulho é contar que, em todos esses anos, não recebeu uma multa nem se envolveu em acidentes. Tamanha prudência resultou em dois prêmios de melhor motorista que estampam as paredes da sala de casa: o de profissional modelo do Estado, em 1997, e segundo melhor do Brasil, em 2007, ambos organizados pela Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano (NTU).
A paixão pela atividade também faz com que o motorista catalogue em pastas as mais diversas notícias sobre o setor: de novidades referentes a modelos até a decisões empresariais acerca do transporte coletivo na cidade e em todo país.
E se a idade já permite a interrupção do trabalho, a vontade e a disposição o fazem seguir ao volante:
– Sou apaixonado por tudo que envolve ônibus. Quando entro em um e sento no banco para dirigir, sinto uma emoção. Enquanto eu puder, vou trabalhar. Para mim, isso é uma terapia para saúde.