Um dos grandes nomes do cinema argentino, o diretor Eliseo Subiela morreu neste domingo de Natal. O cineasta sofria de problemas no coração (teve um infarte há três meses). Ele completaria 72 anos nesta quarta, dia 27.
Conhecido por ao menos dois clássicos do cinema latino-americano contemporâneo (Homem mirando o sudeste, de 1986, e O lado escuro do coração, de 1992), Subiela esteve em Porto Alegre em 2012, na Seleção de
Filmes Bourbon, ocasião em que debateu com o público gaúcho seu então novo filme Paisagens devoradas – uma preciosidade da produção argentina recente que homenageia o lendário cineasta e professor do país vizinho Fernando Birri, realizador do histórico documentário Tire dié (1960).
Paisagens devoradas é um falso documentário no qual três jovens diretores vão a um manicômio registrar a vida de um misterioso homem que diz ser cineasta e cujo perfil coincide com o de um realizador da década de 1960 que está desaparecido – alusão a Birri, que interpreta o homem.
Na ocasião, Subiela conversou com ZH reafirmando seu gosto pelo cinema narrativo e rejeitando abordagens menos convencionais da linguagem que, segundo ele, não passam de modismos.
– Algo me incomoda na produção mais recente: o fato de haver muitas histórias vazias, de dramaturgia pobre, que não contam nada interessante – disse.
Filho de mãe argentina e pai espanhol, foi criado em Palermo, tradicional bairro da capital argentina. Militou politicamente nos anos 1960, quando conheceu sua mulher, Mora Moglia, com quem teve três filhos. Realizou curtas-metragens e trabalhou com publicidade antes de estrear no longa-metragem ficcional, em 1981, com La conquista del paraíso.
Baseado nos poemas de Mário Benedetti e Juan Gelman, O lado escuro do coração teve grande repercussão e chegou a ganhar uma continuação, em 2001 – sem o mesmo sucesso do original. Homem mirando o sudeste é provavelmente o seu longa mais premiado – saiu laureado dos festivais de Toronto e San Sebastián, entre outros. As últimas imagens do naufrágio (1989) é outro de seus filmes mais conhecidos. Sempre foi apontado como um representante do realismo mágico no cinema, dado o seu gosto pelas tramas fabulares porém invariavelmente dotadas de carga política.
Sua morte foi confirmada pelo cineasta e amigo Gabriel Arbós, diretor da Associação dos Diretores Cinematográficos da Argentina. Recuperando-se do infarto que teve há três meses, Subiela trabalhava no roteiro de um novo longa. Seu último trabalho foi Rehén de ilusiones (2013), que permanece inédito no circuito comercial brasileiro.