Criada para guardar os grãos colhidos pelos produtores do Rio Grande do Sul e há anos lutando para se manter em pé, a Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) pode encerrar, na tarde desta segunda-feira, mais um longo e custoso processo de ação trabalhista milionária movida contra a administração do órgão.
Desta vez, a expectativa é fechar um acordo na Justiça do Trabalho que vêm sendo elaborado desde o início do ano, a partir de uma ação de R$ 280 milhões movida pelos quase 300 servidores em 2005.
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De acordo com Juliano Rodrigues, advogado do Sindicato dos Auxiliares de Administração de Armazéns Gerais no Estado do Rio Grande do Sul (Sagers), a ação se refere à cobrança de dívidas pelo não pagamento do piso da categoria entre os anos de 1997 a 2000 :
– O governo passou esse tempo todo sem dar reajuste. O valor se refere a uma diferença salarial de 46% desse período, e que já perdura há mais de 16 anos. Soma-se o prejuízo que as pessoas tiveram durante todo este tempo, com juros, correção, e chegamos a esta quantia – explica.
O valor milionário da ação, segundo o secretário da Agricultura, Ernani Polo, é superior aos R$ 180 milhões estimados de todo o valor da Cesa. A contraproposta do governo é de pagamento de R$ 115 milhões (60% a menos) em até 72 vezes. Caso os servidores aceitem, terá prosseguimento a venda de unidades do interior da companhia – o que é planejado pelo governo.
Na expectativa de encerrar as negociações ainda nesta segunda-feira, em reunião marcada para às 17h na Justiça do Trabalho, o presidente da Cesa, Carlos Vanderley Kercher, afirma que a empresa vêm fazendo os ajustes necessários para compor o acordo:
– Agora só estamos resolvendo questões pontuais do acordo. Vamos achar uma solução para a conciliação. A proposta foi encaminhada com bastante antecedência e tivemos tempo de discutir alguns pontos – afirmou.
Conforme Kercher, um dos principais itens do acordo é desbloquear o patrimônio para desfazer-se inicialmente das estruturas desativadas e, depois, das deficitárias. Elas ficariam disponíveis para venda ou aluguel, e o valor seria revertido para o pagamento dos passivos.
Para o advogado do Sagers, entretanto, a proposta não é suficiente pois não garantiria o pagamento aos funcionários:
– O problema é que a empresa não dá garantia de que irá fazer esse pagamento. Se aceitarmos esse acordo, a empresa já contaria com um valor 60% inferior ao da dívida inicial. Caso não cumpra o pagamento, o que é possível, poderíamos cobrar somente esses 40%, e não o valor total – afirma Rodrigues.
Questionado sobre outras estratégias para o pagamento, caso a venda ou aluguel das unidades não se concretize, Kercher afirmou que isso seria pensado em um segundo momento:
– A receita viria da proposta da venda das unidades. Esgotada esta possibilidade, se passaria a outras questões, mas isso teria que ser pensado posteriormente.
Se fechar o acordo judicial, a Cesa pretende colocar à venda as unidades desativadas em Passo Fundo, Nova Prata, Estação e Santa Bárbara do Sul. A intenção é fazer o mesmo com as estruturas abertas, porém deficitárias, em São Gabriel, Bagé, Cachoeira do Sul e Palmeira das Missões.
Por enquanto, a intenção é manter os negócios que ainda dão retorno financeiro, principalmente o terminal de Rio Grande. Para tentar reduzir a ociosidade das outras sete unidades, superior a 60% hoje, a estatal anunciou em novembro desconto de até 40% na tarifa de armazenagem das safras de trigo e de milho.