E m um galpão no centro do município de Camboriú estava parte do quebra-cabeça de uma operação da Polícia Federal que chamou atenção nacional na sexta-feira. É onde funciona o escritório de advocacia de Jader Alberto Pazinato, apontado na operação Timóteo, da PF, como autor de pagamentos de R$ 61 milhões em propinas em um esquema de corrupção envolvendo royalties de exploração mineral. Foram cumpridos mandados em 11 Estados. Em Santa Catarina, os agentes tinham ordem para prender duas pessoas, além de terem cumprido 10 mandados de busca e apreensão e oito de condução coercitiva. A PF não informou os nomes dos envolvidos.
Em todo o país, havia ordem para 29 conduções coercitivas, 4 mandados de prisão preventiva, 12 de prisão temporária, sequestro de três imóveis e bloqueio judicial de valores estimados em R$ 70 milhões.
De acordo com a investigação, o diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) em Brasília, Marco Antônio Valadares Moreira, teria agido junto com a esposa, Lilian Valadares Moreira, para influenciar prefeituras a contratar dois escritórios de advocacia ou uma empresa de consultoria para aumentar o pagamentos de royalties devidos por empresas que exploram o solo nesses municípios. O valor total movimentado em oito anos de operação fraudulenta teria chegado a R$ 66 milhões. Marco e Lilian foram presos.
A maior parte do dinheiro teria sido movimentada pelo escritório de Jader Alberto Pazinato, no centro de Camboriú, onde agentes da PF fizeram buscas em documentos e computadores na manhã de sexta-feira. Um advogado da seção de Balneário Camboriú da OAB/SC acompanhou a ação e informou que Jader não estava no local. A busca durou pouco mais de uma hora no galpão que não tem identificação na fachada. Pelo menos outros dois mandados foram cumpridos, um em Itajaí, na casa de Jader, e outro na sede da Igreja Embaixada Reino de Deus, em Balneário Camboriú.
Advogado tem contratos com municípios do Pará
O escritório de Jader tem contratos com municípios do Pará, onde a PF também cumpriu mandados na sexta-feira. Um dos mandados de prisão temporária foi contra Alberto Jatene, filho do atual governador, Simão Jatene, do PSDB. Alberto teria recebido R$ 750 mil por meio do esquema investigado na Operação Timóteo.
A reportagem conversou por telefone com secretária do escritório de Jader na sexta-feira. Ela informou que o advogado estava em “viagem e que retornaria na segunda-feira”.
Malafaia recebeu doação de R$ 100 mil
Na sede da Polícia Federal em São Paulo, onde foi depor sobre as suspeitas que pesam contra ele de lavar dinheiro de um esquema de fraudes de royalties, o pastor Silas Malafaia, presidente da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, refutou as acusações contra ele. Alvo da Operação Timóteo, ele tem contra si um mandado de condução coercitiva, expedido pela Justiça Federal em Brasília. Ele é investigado por supostamente receber valores do principal escritório de advocacia investigado no caso.
Pela manhã, Malafaia havia postado no Twitter mensagens coléricas em áudio e vídeo negando as suspeitas da investigação.
– Por que eu não recebi uma intimação para prestar depoimento? Condução coercitiva como se eu fosse bandido e tivesse envolvido nisso? – questionou em um vídeo publicado.
Segundo o pastor, ele recebeu uma “oferta” de R$ 100 mil. O dinheiro teria sido dado por um “membro da igreja do meu amigo pastor Michael Aboud”.
À frente da Polícia Federal, o pastor disse que “orou” pelo empresário que, depois, fez a doação por meio de um depósito em sua conta pessoal. Malafaia afirma ter recolhido os impostos e declarado a doação.
– Em 2013, eu recebi a visita no meu escritório do meu amigo, pastor Michael Aboud, da Igreja Embaixada do Reino, em Balneário Camboriú. Ele levou o amigo dele, Jader, que queria me dar uma oferta pessoal. Depositei na minha conta e declarei na conta minha e da minha esposa – relatou o pastor.
A PF trabalha com a hipótese de que Malafaia teria emprestado contas correntes de uma instituição religiosa sob sua influência com a intenção de ocultar a origem ilícita de valores.