O assassinato do vendedor Luiz Fernando Schilling, 29 anos, esfaqueado no Parque da Redenção na noite do último domingo, trouxe mais à tona novamente a deficiência na segurança de uma das regiões mais tradicionais de Porto Alegre. Com área de 370 mil metros quadrados, o parque conta atualmente com apenas cinco câmeras de segurança da prefeitura e efetivo de policiais insuficiente.
Conforme familiares da vítima, a Brigada Militar, que foi acionada por telefone após o ataque, nem chegou a aparecer. Além disso, a polícia demorou mais de 30 horas para conseguir identificar o local exato onde aconteceu o crime, uma vez que não foram localizadas imagens de câmeras de segurança na região.
Além dos depoimentos de testemunhas, gravação feita pelo equipamento particular de uma padaria, que não era de boa qualidade, foi o único elemento capaz de auxiliar nas investigações:
– O que existe por ali são, basicamente, câmeras de estabelecimentos comerciais e as da EPTC. O certo seria cercar o parque, como em qualquer cidade civilizada do mundo, já que delitos acontecem lá todos os dias – afirmou o delegado Abílio Pereira, da 10ª DP.
O exemplo de Abílio refere-se a cidades que contam com cercamento físico. Na Redenção, entretanto, o que existe atualmente é um projeto para "cercar" eletronicamente o parque.
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A dificuldade de monitoramento da zona é reconhecida pela Guarda Municipal (GM), que conta atualmente com apenas dois agentes atuando no parque. Conforme o sub-comandante da GM, João Bertuol, o órgão busca manter o efetivo 24 horas por dia, o que nem sempre é possível:
– Tentamos ficar dia e noite no parque, mas em determinados momentos não temos condições pelo efetivo reduzido – argumenta.
Os agentes, que realizam patrulhas em moto ou carro, também ocupam, desde setembro, um posto da Brigada Militar desativado em abril deste ano:
– Ele serve como base de descanso dos guardas municipais, também como área de monitoramento e atendimento à comunidade – explicou Betuol.
Queda no número de crimes, afirma BM
Conforme o coronel Mário Ikeda, comandante de policiamento da Capital, desde que o posto foi desativado, todos os dias uma viatura com um PM faz patrulhamento na Redenção, mais focado na região da Avenida Osvaldo Aranha, que concentra maior movimento.
– Tem um PM que fica na região desde a manhã, até por volta das 23h30min. Percebemos, inclusive, redução de ocorrências de furto e roubo naquele local – informou Ikeda.
Segundo o comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Marcus Vinicius Gonçalves Oliveira, que atende a região que compreende a Redenção, quando o posto policial foi fechado, havia registro de dois a três assaltos diários em paradas de ônibus na Osvaldo Aranha. Agora, com a estratégia de o PM circular na viatura, o número caiu para um caso a cada duas semanas.
Redenção receberá 21 câmeras até 5 dezembro, promete prefeitura
Além do efetivo que já atua na região, a Secretaria Municipal de Segurança (SMSEG) garante que, em menos de um mês, a vigilância do parque será reforçada. Está previsto para o dia 5 de dezembro a implantação de 21 novas câmeras de segurança na Redenção, que serão operadas inicialmente por dois agentes da Guarda Civil, 24 horas por dia, no Centro Integrado de Comando (Ceic). Além disso, o conteúdo será espelhado no Centro de Operações da Guarda Municipal sempre que necessário.
– Hoje, não tenho como patrulhar em todos os locais, pois tenho apenas dois agentes. Com as câmeras, será possível visualizar região mais ampla – explicou o comandante da Guarda Municipal, Luiz Antônio Pithan.
O chefe da Guarda ainda ressaltou que o principal objetivo das câmeras é a identificação de suspeitos de crimes, mas que elas não poderão suprir a demanda de flagrantes dos delitos, uma vez que o número de agentes monitorando os equipamentos ainda é pequeno:
– É uma ferramenta boa principalmente para que os agentes acionem quem está no local, seja agentes da Guarda Municipal ou da Brigada Militar. Ao identificar atividades suspeitas, os operadores podem passar informações sobre o local para onde estão indo, roupas que estão vestindo, entre outros.
De acordo com o levantamento da planilha de assassinatos do Diário Gaúcho, o assassinato de Luiz Fernando Schilling foi o 31º latrocínio do ano em Porto Alegre. No mesmo período de 2015, o número de vítimas era 18 - um aumento de 72%.
O latrocínio e a prisão dos suspeitos
Na manhã de terça-feira, dois dias depois do ataque, o 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM) prendeu dupla suspeita de ter cometido o crime. Os homens, que foram identificados pela irmã e amigos de Schilling, foram presos em flagrante após atacar um homem, também na Redenção, e o ameaçar com uma faca para que entregasse dinheiro e pertences.
Eles fugiram a pé levando R$ 200 da vítima. A Brigada Militar foi acionada e prendeu os dois no viaduto da Avenida João Pessoa sobre a Avenida José Loureiro da Silva.