No interior de Viamão, onde o sinal de celular é ruim e a internet banda larga não tem jeito de chegar, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Jerônimo Porto, na Zona Rural de Viamão, conseguiu vencer o baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) usando a tecnologia. Aulas de robótica para todos os alunos e com tablet para os que estão em fase de alfabetização transformaram a escola em exemplo no município.
Localizada a 16km do Centro, a escola começou a revolucionar o currículo pedagógico ainda em 2014, ao utilizar sucata para as aulas de robótica do professor de Matemática e agora diretor Eduardo Cruz. Com o material, ele mostrava exemplos práticos do conteúdo teórico.
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Ao mesmo tempo em que a robótica foi inserida no cotidiano dos alunos, o uso da Conecturma – metodologia de aprendizagem adquirida pela prefeitura para 12 escolas municipais, que utiliza livros, plataforma digital e games – em tablets também mudou as aulas da turminha do primeiro ano.
Desde o início de 2015, a professora Carine Dias Soares começou a usar personagens, jogos e a interatividade para acelerar a alfabetização da gurizada. A ideia era tornar a escola mais interessante, envolver as famílias e qualificar o aprendizado. Deu tão certo que o índice de aprovação, que chegou a 80% em anos anteriores, pulou para 92% em 2015. Já o Ideb foi de 4,2, em 2013, para 5,6 em 2015 – superando a meta projetada para 2017, de 5,4.
– Cada um tem um sonho que quer transformar em realidade. Os pequenos montam um trem e querem fazer ele andar, fazem uma casa e pensam em como instalar nela uma campainha – exemplifica a professora Carine.
O pequeno Gustavo Rohmann Ribas, sete anos, se orgulha em dizer que "lê no tablet e no caderno" e ainda dá uma força para o colega Gabriel Souza Batista, sete anos, que já une algumas letras em sílabas. Enquanto conversavam com a reportagem, poucas vezes desgrudavam os olhos da tela.
Desafios estimulam a curiosidade
Por meio do Conecturma, os alunos não recebem atividades, mas desafios que estimulam a curiosidade e o pensamento crítico. Músicas, como o funk do alfabeto, também compõem o repertório do programa. Com material familiar e inteligente, a criançada se reconhece nos personagens e aprende com leveza:
– As crianças precisam de elementos que interessem elas. Tanto os games quanto a fala do computador. Isso atrai porque eles já nasceram neste universo tecnológico. Aqui, todos sabem o que é tablet. O projeto inclui todos, não deixa ninguém de fora.
Para o diretor da Conecturma, Rafael Parente, o projeto tenta reverter um dos maiores problemas da não aprendizagem, que é a falta de interesse dos alunos, usando a tecnologia, uma ferramenta que aumenta a motivação:
– Com auxílio da tecnologia, os professores podem dar uma atenção individualizada, conhecer melhor cada criança, enquanto a turma toda está engajada na atividade, além de conseguir identificar uma criança que tenha mais dificuldade e tentar entender melhor de onde vem aquela dificuldade.
Todos os recursos dos tablets funcionam com cartão de memória offline e não dependem da internet.
– A gente não deixa de fazer nada por falta de internet, mas tudo que a gente faz poderia ser ampliado se tivéssemos banda larga _ compara o diretor.
"É fantástico ver um aluno aprendendo a ler"
São 30 tablets usados em rodízio pelas turmas. Os alunos são orientados a ter cuidado no manejo do aparelho. A principal regra é não tirá-los de cima da mesa.Sebastião Farias Vieira e Eduardo Santos Silveira, ambos com sete anos, dizem que a aula é muito mais divertida quando usam o tablet. Andrieli Cristina Amorim da Silveira, sete anos, aprendeu a ler com ajuda do eletrônico._ O que mais gosto de fazer é completar as letras que faltam nas palavras _ diz ela, se referindo a uma das atividades.
– É fantástico ver um aluno aprendendo a ler. Eu fico sem palavras – emociona-se a professora Carine.
Fazendo tanto com tão pouco, a escola do Interior, com 215 alunos, orgulha a secretária de Educação de Viamão, Marcia Culau. Para ela, desafiar mais os professores e investir no pedagógico deu outro ânimo para a instituição:
– A escola é realmente inovadora. Eles fazem um trabalho muito gratificante. Hoje, os alunos pesquisam coisas que são do interesse deles. Isso faz com que o aluno não tenha limite no que quer aprender, porque ele vai atrás.
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Sem medo da robótica
Além de ter melhorado o rendimento em sala de aula, principalmente nas disciplinas que envolvem cálculo, os alunos deixaram a apreensão de mexer com robótica de lado para a curiosidade de avançar cada vez mais:
–A gente vê dando certo e quer fazer mais – conta Leonardo Azolin, 13 anos, aluno do sétimo ano.Rayane Fabonatto, 13 anos, também do sétimo ano, orgulha-se de ter mudado sua visão sobre o assunto:
– No começo é difícil, assusta, a gente acha que não vai conseguir programar uma placa – admite.Na sala de robótica, um ajuda o outro, empresta um fio, tira uma dúvida e faz um trabalho em grupo dar certo.
– Isso pode ser uma porta se abrindo para o futuro – projeta Eduardo Castro, 14 anos, do sétimo ano.