A onda gigante que atingiu a praia de Balneário Rincão e no Morro dos Conventos, em Araranguá, no Sul de Santa Catarina, é chamada de tsunami meteorológico ou meteotsunami. Meteorológico por que ele não é de origem geológica, ou seja, não foi originado a partir de um abalo sísmico, como o fenômeno que inspirou o filme O Impossível, quando um tsunami atingiu a costa da Tailândia. O que se viu neste fim de semana em SC foi o resultado da soma de fatores meteorológicos específicos, que costumam ser mais frequente na Primavera.
Nesse caso, um sistema de baixa pressão atmosférica localizada se deslocou no mesmo sentido, direção e velocidade que o trem de ondas do mar. Por conta desses fatores, essa onda gravitacional conseguiu se acoplar às ondas, que já estavam sobre a plataforma continental, descarregando mais energia no oceano e, consequentemente, impulsionando o trem de ondas com mais força. Esse acoplamento, conforme a análise do oceanógrafo da Epagri/ Ciram, Carlos Salles, é chamado de ressonância.
– Essas ondas de baixa pressão atmosférica empinam ainda mais as ondas do mar. Esse é o termo técnico, empinamento, que é quando a onda cresce para quebrar. Nesse caso ela chegou na costa e dai sim quebrou, mas foi uma altura normal. Normalmente o fenômeno atinge um trem de ondas só – complementa o especialista.
O próprio meteorologista do grupo RBS, Leandro Puchalski, já havia informado sobre a possibilidade de o município de Araranguá ter sido atingido por um tsunami meteorológico. De acordo com ele, esse tipo de formação de onda já foi registrado em Florianópolis em 2009, quando a água atingiu praias do Sul da Ilha. O mesmo aconteceu na Praia do Cassino, no Rio Grande do Sul, em 2014.
No Sul do Estado, onde o tsunami meteorológico foi visto, Salles acredita que o sistema não chegou a se intensificar, caso contrário, a onda poderia ter quebrado na costa com uma altura de até cinco metros _ há registros assim, mas não no Brasil. Segundo ele, essa intensificação ocorre quando o sistema fica parado junto ao mar entre três e dez minutos. Sem um registro específico do momento da onda, Salles afirma não saber qual o tamanho do fenômeno.
– Não é um evento comum. É difícil prever por quê é uma coisa local, sem contar que ele não é extenso e para ocorrer é preciso dessa conjunção de fatores. Possivelmente daqui quatro ou cindo anos veremos outro meteotsunami – prevê Salles ao pontuar que há registros similares de 2009, em Pântano do Sul, e em 2014, no Sudeste.
Por fim, apesar da dificuldade de prevê o fenômeno, o oceanógrafo salienta que algumas característica atmosféricas, como o formato das nuvens, podem ser um alerta. Nesse caso, a forma deve ser ondular ou com a plataforma triangular, similar ao formato dos tornados.
– Se esse sistema (de baixa pressão localizada) estivesse se deslocando em outra direção, não haveria problema nenhum – conclui Salles.
Leia também:
Ventos fortes deixam rastro de destruição em Tubarão