Duas das maiores obras tocadas no Rio Grande do Sul nos últimos anos caíram no radar da Operação Lava-Jato e passaram a ser alvo de investigação em inquéritos policiais. Uma delas é a extensão da linha do trensurb entre São Leopoldo e Novo Hamburgo. A outra, a construção da barragem do Arroio Taquarembó, nas regiões de Dom Pedrito e Lavras do Sul. Foram identificados indícios de pagamento de propina nesses empreendimentos a partir da análise de e-mails trocados por integrantes do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, núcleo secreto da empreiteira encarregado de fazer a distribuição de vantagens indevidas a políticos, servidores públicos e operadores financeiros.
As investigações devem ser ampliadas a partir do acordo de colaboração premiada de 15 diretores da empreiteira Odebrecht, que está por ser assinado em Brasília. A ideia é que eles revelem nomes de políticos e servidores públicos que receberam dinheiro para garantir que os contratos ficassem com a construtora. Zero Hora não revela nomes dos suspeitos porque a própria PF considera que os indícios necessitam de provas adicionais, como números de contas e datas de repasses de subornos.
A extensão do trensurb custou R$ 881 milhões, incluindo obras complementares como uma ponte e a abertura de cinco novas estações: Rio dos Sinos, em São Leopoldo, e Santo Afonso, Industrial, Fenac e Novo Hamburgo, na cidade de Novo Hamburgo. Elas foram inauguradas em duas etapas, em julho de 2012 e em maio de 2014. No inquérito policial, são investigados por recebimento de propina um ex-dirigente da estatal de transporte metropolitano, um deputado federal e um ministro. Eles teriam recebido propina. A Norberto Odebrecht era uma das empreiteiras do consórcio responsável pelas obras, acompanhada da Andrade Gutierrez, Toniolo Busnello e T'Trans.
Em mensagens compartilhadas pelos ex-presidentes da Odebrecht Benedicto Barbosa da Silva Junior e Marcelo Odebrecht, são autorizados pagamentos referentes a essa obra e a outra, da barragem de Taquarembó.
Nessa represa, os beneficiados por propina seriam ex-integrantes do governo estadual, parlamentares federais e empresários. Projetada para custar R$ 51,9 milhões e ajudar a irrigar 16,7 mil hectares, a barragem deve consumir R$ 150 milhões para ficar pronta. Iniciadas em 2009, as obras sofreram paralisações e foram retomadas há cerca de um ano. A previsão é de conclusão em um ano e meio, segundo o governo do Estado.
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A Justiça Federal já condenou quatro pessoas por fraude na licitação de Taquarembó, que ocorreu durante o governo Yeda Crusius (PSDB). Eles foram sentenciados a penas que variam de três a seis anos de detenção, além de multa. Os quatro negam os crimes e recorrem da sentença.
A investigação sobre Taquarembó, feita na Operação Solidária – da PF –, demonstrou, via grampos telefônicos, que empresários acompanhavam o andamento dos editais antes de sua publicação. O MPF considera também evidenciado o uso de interferências políticas consideradas ilegítimas para que o resultado dos certames ocorresse conforme o interesse das empresas. Diálogos mostraram influência de servidores do Estado na alteração dos editais, para que determinada empresa vencesse a licitação.
O delegado Filipe Pace, que atua nesse caso, busca mais detalhes junto aos executivos da Odebrecht, sobretudo referentes a políticos com atuação federal e que teriam interferido na obra.
Também estão sob apuração da PF duas obras em Rio Grande (ampliação dos molhes e dragagem do canal do porto) e Terceira Perimetral (via radial em Porto Alegre). As pessoas que intermediaram a Terceira Perimetral em Porto Alegre –com suposto recebimento de propina – são de codinome Três e Animal. Seriam ex-ocupantes de cargos da prefeitura, ainda nas gestões do PT. Já em Rio Grande estão sob investigação três pessoas: Zambão, Betão e Legislador. A PF espera que dirigentes da Odebrecht informem de quem são esses apelidos e providenciem detalhes das negociações.