Um terço dos brasileiros aposentados acima dos 60 anos continua trabalhando, aponta um estudo do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) Brasil. O principal motivo é a necessidade financeira, uma vez que a aposentadoria não é suficiente para pagar as contas para 46,9% dos aposentados, mas manter a mente ocupada (23,2%) e e se sentir produtivo na sociedade (18,7%) também contam na decisão de se manter na ativa.
É o caso da professora do Estado aposentada Delma Acosta Zadra, 69 anos, que trabalha como consultora de beleza e garante: não se imagina parada. Aposentada há 23 anos, viu o dinheiro do benefício encolher com o passar do tempo. Situação que agravou com o parcelamento dos salários do Estado. Para complementar a renda fixa, vende produtos estéticos. Sem isso, ela garante que não conseguiria se manter.
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Outro estudo, este da Fundação de Economia e Estatística (FEE), confirma que a população com idade acima de 60 anos está mais presente no mercado de Região Metropolitana de Porto Alegre. Desde que Delma se aposentou, a proporção de idosos no total da População Economicamente Ativa (PEA) mais que dobrou, passando de 2,5%, em 1993, para 5,7% em 2014.
Para Delma, continuar trabalhando é uma necessidade para conseguir pagar as contas básicas e os remédios. Com hipertensão, diabetes e colesterol alto, tem gasto alto com farmácia. Sem experiência no ramo dos cosméticos, aproveitou a própria vaidade, a habilidade com vendas e a facilidade em se comunicar para conquistar e fidelizar clientes.
Autônoma, tem horário flexível e consegue conciliar o trabalho com lazer e atividades no grupo de terceira idade. Com rotina ativa, diz que não quer saber de parar:
– Se tu fica em casa, mesmo se eu ganhasse melhor, não é legal, com o tempo bate uma tristeza e a autoestima vai lá para baixo. Me sinto mais jovem agora, adoro ver minhas clientes felizes com o que eu vendo.
Depois de trabalhar na iniciativa privada ao longo da vida, muito optam pela carreira individual. A pesquisa aponta que 17% dos trabalhadores são autônomos, 10% são informais ou que fazem bicos e 2,1% são profissionais liberais. Os que ainda atuam como funcionários da iniciativa privada são apenas 1,7% do total.
Com o aumento da expectativa de vida do brasileiro, a especialista em comportamento de trabalho, Daniela do Lago, afirma que o trabalhador com mais de 60 anos quer se sentir útil e aproveitar a maturidade profissionais que adquiriu e que muitas empresas tem perdido:
– Nesta fase já tem conhecimento, outra visão de vida, é normal partir para um lado mais prazeroso. A pessoa já sabe administrar melhor seus talentos.
– O que elas levam muita vantagem com relação a geração nova é a experiência anterior que ele teve, sabedoria de vivência, paciência que foi adquirida – considera a coordenadora da Gestão de Recursos Humanos da Unisinos, Clarissa Cervo.
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Fazendo o que gosta
Moradora do Bairro Partenon, Genoveva Kozlowski, 70 anos, é aposentada há sete anos e continua trabalhando como costureira. Vende lençóis de malha, faz tapetes, acessórios e reformas em roupas para a vizinhança e clientes do Centro.
Ela se aposentou após trabalhar em empresa de confecção e mais tarde como cozinheira. Com a aposentadoria e o dinheiro da costura, ajuda os dois filhos, Luciana, 43, e Luciano, 38, que estão desempregados. Paga a pós-graduação em Administração da filha, que vive em São Paulo, e auxilia o filho que vive no mesmo terreno que ela e está sem emprego há dois meses.
A pesquisa do SPC mostra que entre os idosos na ativa, nove em cada dez (95,7%) contribuem ativamente para o sustento financeiro da casa, sendo que mais da metade (59,7%) são os principais responsáveis.
– Desde que me aposentei, me dei conta que só este dinheiro não daria. Só consegui construir minha casa depois que me aposentei. Só com a aposentadoria daria para o feijão e o arroz e olhe lá. Genoveva precisa continuar trabalhando mas garante que gosta do ofício. A máquina de costura comprou depois que se aposentou.
– Não tenho problemas de saúde, só pressão alta, mas levo uma vida normal e não tenho preguiça de trabalhar.