Porto Alegre, que já foi reconhecida como referência em qualidade de vida e inovações como o Orçamento Participativo, hoje busca uma nova marca.
Quem admira as águas serenas do Guaíba não imagina quantos projetos de recuperação já foram afogados ali nas últimas duas décadas. A incapacidade de revitalizar o Cais do Porto e de despoluir o manancial, o que seria capaz de transformar Porto Alegre em polo turístico voltado ao lazer e também a esportes aquáticos, é apenas um exemplo dos potenciais inexplorados da Capital ano após ano.
Mas por que planos como recuperar a orla, o Centro Histórico e o Quarto Distrito, ou dar uma nova vocação econômica à cidade demoram tanto para avançar? Não há uma explicação única, mas, isso sim, um conjunto de razões que frustram os desejos de renovação urbana em sucessivas gestões. Cidades que conseguiram implantar programas ousados de renovação seguiram uma receita básica mais ou menos comum: planejamento exaustivo, várias frentes de ação e trabalho coordenado entre diferentes níveis de governo, sociedade civil e empreendedores.
Leia mais
Qual o futuro de Porto Alegre?
Quarto Distrito abriga projetos para o futuro de Porto Alegre
"Orla é a nova fronteira de desenvolvimento", diz arquiteto do Canadá
Em Porto Alegre, a tentativa de entregar o Cais do Porto à população resume os desafios para criar a cidade dos sonhos. Desde 1991, houve cinco iniciativas diferentes para dar um novo destino à área. Sempre faltou algo: ação coordenada entre município, Estado e União, ajuste das regras de utilização do espaço ou debate prévio com a população.
O projeto atual resolveu impasses burocráticos sobre o uso da área envolvendo União e Estado, mas sofre críticas de especialistas e apontamentos do Tribunal de Contas do Estado por problemas como atrasos e falta de comprovação de capacidade financeira do consórcio vencedor. A empresa Cais Mauá do Brasil argumenta que um grupo de trabalho do governo estadual isentou o consórcio de quaisquer irregularidades.
– Faltou discussão prévia com a sociedade sobre o projeto – acredita o doutor em Planejamento Urbano Eber Marzulo.
As obras da Copa do Mundo ilustram outro problema: falta de planejamento. De 15 melhorias previstas para o torneio, realizado em 2014, 11 venceram o prazo de conclusão previsto na ordem de início das obras por problemas que poderiam ter sido evitados mediante estudos mais detalhados. A prefeitura argumenta que cada obra sofreu diferentes percalços, imprevisíveis, mas o TCE apontou em relatório que "as dificuldades para superar os entraves existentes demonstram as deficiências de planejamento e de gestão". O professor da Escola de Administração da UFRGS Clezio Saldanha dos Santos aponta outra deficiência histórica de diferentes administrações:
– Inovações dependem muito do governo e da iniciativa privada trabalharem juntos. Em outros países, empresas e governos cooperam para desenvolver a região. Aqui, percebo um certo distanciamento entre as estratégias de empresas e dos governos.