Após dois dias de pânico e preocupação, a população da Praia do Hermenegildo, em Santa Vitória do Palmar, no Litoral Sul do RS, amanheceu com uma sensação de alívio: com a maré bem mais baixa, o que ficava aparente na manhã deste sábado era a destruição das casas e a tristeza estampada no rosto dos moradores. Consequência de um ciclone extratropical, a cidade onde vivem 800 famílias foi atingida por uma forte ressaca do mar, que invadiu as moradias, destruiu cerca de 30 residências e danificou outras 50.
À beira-mar, conforme a água ia recuando, o que ficava cada vez mais evidente eram os destroços onde antes erguiam-se as casas dos moradores e veranistas.
– A beira da praia está irreconhecível, não dá para acreditar – lamentava uma moradora com lágrimas nos olhos.
Segundo o prefeito Eduardo Morrone, o dia será dedicado a avaliar os estragos e ter uma ideia mais precisa de quantas residências foram afetadas. No domingo, a prefeitura irá se reunir com a Defesa Civil para avaliar um possível decreto de estado de emergência.
– Contam que há mais de 60 anos teria acontecido algo parecido aqui, mas esses últimos dias foram muito pesados. Estamos todos devastados. Algumas casas estavam em zonas de risco, mas outras nem imaginávamos que poderiam ser atingidas, e elas agora estão destruídas – relata o mergulhador Reinaldo Nunes, de 47 anos, que mora na região há mais de quatro décadas.
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Acostumado com a vida marítima, o mergulhador conta que as cenas dos últimos dias foram surpreendentes.
– Tinha ondas que chegavam a sete metros, nunca vi nada igual. Ainda bem que hoje o mar já está bem mais baixo, é outra coisa.
A situação começou na quinta-feira, com as fortes rajadas de vento, e os estragos ocorreram principalmente à noite. Os moradores do balneário, sem luz há dois dias, tiveram a energia elétrica restabelecida na manhã deste sábado. Somente as casas que costeiam a praia continuam sem luz e sem água.
A solução para muitos é ficar nos pátios das casas que ainda estão de pé. O aposentado Tibiriçá Araújo, de 59 anos, aproveitou o fim da manhã para assar um churrasco e comemorar a permanência de sua casa em pé:
– Tenho esta casa há 23 anos. Nunca aconteceu nada como isso, ficamos sem saber para onde correr.
Localizada à beira da praia, a residência teve parte de sua estrutura danificada, mas não chegou a desabar como as construções ao redor. O aposentado conta que, nas últimas duas noites, ele e a família tiveram de dormir no carro por medo de um possível desabamento:
– Ficávamos acordando e acompanhando as ondas. Era uma sensação de angústia e impotência. Como é bom acordar e ver que passou.