Um fator, que embora possa não ser o único, ajuda a explicar o desempenho das escolas de Caxias do Sul no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb): a participação ou não dos pais no ambiente escolar. Enquanto o Imigrante estende às famílias o mérito pela maior nota da cidade, 7,3 na avalição do 4º e 5º anos, outra escola estadual com baixa participação dos pais ficou com o menor índice entre as instituições públicas caxienses: no Evaristo de Antoni, os 8º e 9ª anos obtiveram nota 2,6. Os números, resultado de exames de português e matemática aplicados no ano passado, foram divulgados nesta quinta-feira pelo Ministério da Educação.
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A receita adotada pelo Imigrante, no bairro Bela Vista, é foco em interpretar o que se lê, atenção individual a alunos com dificuldades e fortalecimento de vínculos. O resultado não é mérito apenas das aulas do ano passado: a diretora, Marlei Wentz Faoro, defende que o trabalho é contínuo e envolve direção, supervisão, professores e participação dos pais. E a função não termina por aí: na próxima reunião pedagógica, os dados do Ideb serão analisados para definir como progredir.
– O aluno precisa sentir que a escola não é uma obrigação e encontrar um espaço prazeroso para aprender. É nos anos iniciais que os estudantes vão descobrir se gostam da escola ou sentir ojeriza por ela – avalia Marlei.
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As professoras Rita Felippe Piamolini e Sandra Inês Formolo Pissaia estavam à frente das turmas que fizeram o exame do Ideb. Preocupadas em criar um ambiente familiar para o teste, a dupla preparou um "vestibulinho", já que as crianças não estão acostumadas a longas provas e a responder em grades de respostas. Assim, montaram questões e aplicaram um teste dias antes do oficial.
– Gostamos muito de trabalhar juntas, trocar ideias, às vezes até trocamos de sala de aula uma com a outra. Persistimos, acreditamos no aluno, mas também exigimos muita leitura – garante Sandra.
A dupla foi fortemente abraçada pela gurizada, na tarde desta quinta, que comemorou a nota no pátio da escola. No alvoroço, houve até aluno que dissesse que a prova do Ideb "estava mesmo muito fácil". Para as professoras, o mérito é dos estudantes, sem desmerecer as famílias.
– Estamos muito, muito orgulhosas deles. Tudo o que fazemos é por eles. Mas os pais acompanham muito pela agenda, mandam recado perguntando como estão as coisas. E se chamamos, comparecem – acrescenta Rita.
Na Evaristo de Antoni, meta é atrair famílias
Uma das maiores dificuldades da escola Evaristo de Antoni, no bairro São José, é despertar o interesse das famílias e atraí-las para o ambiente escolar. Reuniões com pais e responsáveis costumam ser vazias e são poucas as contribuições ao Círculo de Pais e Mestres (CPM), que ajuda a pagar despesas do colégio. Mesmo convocados para ir até a escola, há pais que preferem tentar resolver situações por telefone, segundo a diretora Heloísa Medeiros.
A maior parte dos 1,5 mil estudantes mora na Zona Norte, formada por bairros carentes. Em função disso, é comum alunos começarem a trabalhar ainda no Ensino Fundamental, o que acaba provocando faltas na escola. Para alguns, o lanche no colégio é a única refeição do dia.
– A cidade tem muito a cultura de trabalhar, trabalhar. Apesar de todo esse quadro, não temos maus alunos. São educados, mas o problema é a aprendizagem. O que falta é responsabilidade, disciplina – acredita a vice-diretora do turno da tarde, Ingrid Piccini.
Para tentar melhorar os resultados, o plano é fazer exercício crítico com os alunos, na tentativa de melhorar o engajamento em sala de aula.
– Acreditamos que ainda podemos mudar a cabeça de alguns. Levamos os terceiros anos (do Ensino Médio) nas universidades, mostramos que tem algo além. E estamos tentando cada vez mais conversar com os pais – acentua a vice-diretora.