Em meio a uma das mais graves crises na segurança do Rio Grande do Sul, com índices de criminalidade batendo recorde no Estado, a indicação do atual prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB), para comandar a Secretaria da Segurança Pública (SSP), foi recebida com surpresa pelos gaúchos. E também com críticas.
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O Diário de Santa Maria entrevistou Schirmer no começo da noite de sexta-feira. Ele pediu novamente um "voto de confiança" e uma "chance" para fazer diferença à frente da pasta. O novo secretário deve renunciar ao cargo de prefeito nos próximos dias, com data a ser confirmada na próxima segunda-feira. Sobre o sucessor na prefeitura, afirmou confiar em um bom governo de José Haidar Farret.
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Schirmer disse que fará o possível para colocar em prática as medidas anunciadas nos últimos dias pelo Gabinete de Crise, como atrair policiais militares aposentados para voltarem à ativa com um aumento de gratificação, a retomada do pagamento de abono-permanência para que PMs em exercício não se aposentem – cerca de 400 – além da antecipação do chamamento de 770 policiais militares e 220 agentes da Polícia Civil.
Leia a entrevista
Como um político assume a pasta da Segurança em meio à tamanha crise que o Estado enfrenta?
Estou consciente da dimensão do desafio. Mas se não acreditasse que é possível enfrentá-lo, não teria aceitado o cargo. Não vim aqui para conseguir o emprego porque teria oportunidades bem melhores na iniciativa privada.
A principal crítica é que o senhor não tem conhecimento técnico.
Eu peço um voto de confiança. Deixa eu trabalhar. Não tenho conhecimento técnico, mas lá (na secretaria) tem gente altamente qualificada, assessores técnicos que vão ajudar. Fui secretário da Fazenda e da Agricultura e não era técnico, não sabia a diferença entre um pé de parreira e um de couve. E, modéstia à parte, vai lá ver o resultado que obtive. Não façam prejulgamentos. Não entraria se achasse que a situação era irreversível, que não dava para melhorar. Me deem um tempo.
Quanto tempo?
Estou mudando o foco, decidi de hoje para amanhã. Sou amigo do Sartori há 40 anos, não tenho o direito de dizer "esse problema não é meu". Sou um homem público. Não sei quanto tempo isso. Não muda do dia para a noite. Há muitos fatores. Estamos perdendo essa guerra para a violência e a droga. Não é só aumentar o número de policiais que vai acabar com a criminalidade, é uma série de fatores. A segurança é um assunto de interesse geral da comunidade, é um somatório. Obviamente, a responsabilidade maior é do Estado. Vou procurar outras opiniões e recursos, dentro das secretarias, na sociedade, no Judiciário, no MP, na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), na igreja. É uma calamidade brutal, não adianta dizer que é município, Estado, União. Precisamos pegar todos juntos.
Qual o prazo que o senhor se dá?
Não vou te dizer a partir de tanto tempo. Deixa eu tomar pé da situação e vou dar a resposta.
Mirou o Beltrame e acertou no Schirmer, o senhor será comparado, como lidar com isso?
Vou procurá-lo para pedir ajuda. Ele sabe, tem conhecimento, experiência, sabedoria. É amigo meu, é uma pessoa em quem confio. Obviamente, vai me dizer, dar orientações sobre o que fazer, onde atacar, o que priorizar. Sou humilde. Quem não sabe, não pode ser pretensioso.
Muitas pessoas não gostaram de o prefeito da cidade em que ocorreu a tragédia da boate Kiss assumir a Secretaria da Segurança. Como o senhor recebe essa crítica?
Não estou sendo processado ou denunciado. Nem eu nem a prefeitura fomos considerados responsáveis na Justiça.
O senhor pretende apresentar medidas ou pacotes?
Não acredito em pacote, as pessoas vão sentir no dia a dia. Não posso te declarar, o que já tenho é um esboço na cabeça. Vou atrás de medidas anunciadas.
A falta de dinheiro do Estado e o parcelamento de salário o assustam?
Obviamente, mas o Estado não faz por que quer. É um problema grave e complexo.
Mas o senhor é secretário e será cobrado também por isso, como vai responder?
Não sei o que te responder. Me dá um tempo. Daqui há um mês, posso responder essas perguntas. Me deem um voto de confiança. Uma chance, é só isso que peço.
Qual o seu recado para Santa Maria?
Na segunda-feira, vou dar uma coletiva e falamos sobre a cidade. Sou um cara muito apegado à família e a Santa Maria. Aceitei porque quero fazer a diferença. Em relação à cidade, faltam só quatro meses para o fim do governo. Tem muita coisa andando, ontem (quinta-feira), anunciei a estação experimental, tem várias ruas importantes sendo asfaltadas. Farret vai fazer um belo trabalho, e é uma forma de homenagear esse fiel companheiro de tantos anos.
O senhor pretende levar gente de Santa Maria para a secretaria?
Pouco. Talvez uma secretária, algum assessor. Não sei, não pensei nisso ainda.