"Precisamos do carro para fazer umas 'mão', para recuperar o que roubaram de nós". Com a frase anunciada para a primeira do total de nove vítimas que fariam, três criminosos deram início, às 17h de quinta-feira, à maratona de crimes que resultou na morte de Cristine Fonseca Fagundes.
Durante 45 minutos, em ruas de pelo menos três bairros, eles aterrorizaram estudantes, trabalhadores, pedestres, apontando arma e exigindo bens pessoais, em especial, celulares. A ação começou na Rua Veranópolis, onde abordaram o dono de um Palio vermelho quando ele saía do carro. O motorista foi obrigado a embarcar novamente e acompanhar o trio.
Pelo que relatou na 9ª Delegacia da Polícia da Capital, quem descia para abordar as vítimas era o homem que estava no banco do carona, identificado pela polícia como Tiago Oliveira da Silva.
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Conforme o delegado Alexandre Vieira, foi Tiago que atirou em Cristine. No banco traseiro, ficava Fabrício Farias, preso pela polícia ainda na quinta-feira. O comparsa que dirigia o Palio da vítima foi identificado como Rafael Silveira Santa Helena.
Depois dos ataques, Tiago jogava os produtos roubados para o banco de trás, onde Fabrício conferia o que havia e pegava o dinheiro nas carteiras. Segundo o dono do Palio, os parceiros questionaram Fabrício sobre o quanto havia em dinheiro, mas ele respondeu que só contaria depois as notas. O trio ia escolhendo as vítimas aleatoriamente.
Cristine teria colaborado, mas ladrão ainda assim atirou
Primeiro, um casal tomando chimarrão em uma praça. Em seguida, uma mulher que caminhava na rua teve a bolsa levada. Depois, um homem que entrava em um carro. Em seguida, um casal de adolescentes. Já na rua em que Cristine seria morta, a Ari Marinho, uma comerciante, que estava dentro do pátio de sua empresa, teve a arma apontada para si e ouviu a exigência de entregar o celular. Jogou o aparelho por cima de uma cerca. Ela viu o criminoso correr em direção ao Palio e desistir de entrar ao perceber o Fit de Cristine parado.
Conforme essa testemunha, o assaltante gritou pedindo o celular, mas Cristine teria ligado o carro. Foi quando houve o disparo, e o Fit bateu no carro da frente. A polícia ainda apura os detalhes da versão dessa testemunha, que contrasta com o relato da filha da vítima. Mas o delegado Vieira confirma que o capô do carro está amassado. Ele acredita que o veículo pudesse estar ligado no momento do ataque, facilitando o movimento e a batida.
A filha de Cristine contou que as duas estavam lanchando dentro do veículo quando notou a aproximação do criminoso, que teria dito "passa tudo". Segundo a jovem, a mãe disse "peraí" e se virou para pegar a bolsa no banco traseiro. Foi baleada ao se desvirar para entregar a bolsa ao bandido. O trio fugiu e a jovem correu para dentro do colégio Dom Bosco.
Conforme o dono do Palio, Tiago voltou dizendo que havia atirado em uma mulher. Fabrício, que estava no banco de trás, dizia que eles deviam "dispensar" o carro, pois estavam "muito visados". Já Tiago, nervoso, ameaçava a vítima: "Vou te matar, velho, vou te matar".
A maratona teve fim na Rua Atanásio Belmonte, no bairro Boa Vista, onde o trio saiu do Palio deixando as portas abertas e o dono do carro, ileso.