Em visita na última segunda-feira aos pronto atendimentos da Secretaria Municipal de Saúde e do Hospital Pompéia, em Caxias do Sul, o Conselho Regional de Enfermagem (Coren) apontou uma série de irregularidades nas instituições, como falta de profissionais, acúmulo de trabalho e omissão. De acordo com a entidade, os problemas verificados nos dois maiores pronto-socorros da Serra são os mesmos de fiscalizações anteriores.
A situação mais grave, segundo o Coren, é no PA 24 horas (postão), onde técnicos estariam atuando na classificação de risco dos pacientes, uma atividade que só cabe a enfermeiros com formação superior. Além disso, nos finais de semana e feriados, afirma o Coren, apenas um profissional tem de dar conta da demanda. Nos dias de semana, são dois enfermeiros para quatro áreas de observação. O conselho entende que é necessário contratar mais oito pessoas.
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– Na classificação de risco da pediatria não tem nenhum (graduado). Com a sobrecarga, o enfermeiro tem de delegar funções a técnicos, o que pode acarretar falhas. A população está deixando de ser atendida por quem é capacitado – afirma o presidente do Coren no Rio Grande do Sul, Daniel Menezes de Souza.
Ele ressalta que a entidade vai notificar os responsáveis e exigir providências. Se nada mudar, eles podem ser acionados judicialmente. No pronto-socorro do Pompéia, que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o Coren relata irregularidades na triagem de exclusão.
Pacientes classificados com as cores verde e azul estariam saindo do local sem o devido registro de entrada e as orientações exigidas, o que contraria o Protocolo de Manchester – utilizado pelo hospital, que estabelece um código de cores conforme a gravidade e prevê a inclusão em todos os casos.
– Estamos reforçando um apontamento anterior. A função do conselho é fazer com que a população tenha um serviço de qualidade, e o profissional exerça sua profissão sem riscos – salienta Souza.
"Má-fé", alega hospital
O superintendente do Pompéia, Francisco Ferrer, considera a fiscalização um ato de "má-fé". Ele garante que não recebeu qualquer manifestação oficial, relatório ou ofício do Coren, e que o hospital não foi comunicado de nada:
– Vemos isso como má-fé. Temos enfermeiros habilitados e todos nossos pacientes são atendidos. Não existe omissão de socorro. Não pode um órgão entrar sem comunicar a instituição para dizer que supostamente ocorre isso e aquilo.
Em nota, a secretaria de Saúde de Caxias assegura que o postão "conta com 147 profissionais com formação universitária, sendo 118 médicos, três assistentes sociais, 19 enfermeiros, seis odontólogos e um nutricionista. Há ainda 99 profissionais da área de enfermagem como técnicos ou auxiliar de enfermagem."
A assessoria da pasta argumenta ainda que "na pediatria não é realizada classificação de risco dos pacientes, mas, sim, uma consulta de acolhimento com um profissional de enfermagem para verificação de sinais vitais que são informados ao médico por meio do prontuário do paciente. Todos os dias o Pronto Atendimento 24 Horas tem de três a quatro enfermeiros em plantões de 12 horas, inclusive nos finais de semana e feriados, não ficando em nenhum momento o serviço com apenas um profissional."