Na retomada das aulas, nesta segunda-feira, depois que a mãe de um aluno foi morta em assalto em frente ao Colégio Dom Bosco, na Zona Norte da Capital, na quinta-feira passada, alunos das séries iniciais encheram balões brancos e os colocaram na entrada do estabelecimento de ensino, em substituição às faixas pretas de luto.
Entre outras atividades desenvolvidas na escola, o administrador de empresas Rodrigo da Fonseca Massa, 32 anos, irmão da vendedora Cristine Fonseca Fagundes,
44 anos, vítima do latrocínio, conversou com pais de outros estudantes e concedeu entrevista.
A legislação penal, considerada defasada por Rodrigo, foi o principal alvo de críticas em sua fala.
– Acredito que as leis em nosso país são muito brandas em alguns casos. Deixo aqui o pedido para que os responsáveis possam revisar nosso Código Penal que claramente está ultrapassado e muitas vezes obriga juízes a soltar criminosos perigosos – disse.
Aplicação da lei
Falando em nome da família, Rodrigo agradeceu pelas manifestações de solidariedade que tem recebido, elogiou a rapidez com que trabalharam a Polícia Civil e a Brigada Militar para identificar os três suspeitos (dois já estão presos) e lamentou as condições com as quais trabalham as forças policiais.
– Com salários atrasados e com péssimas estruturas – disse.
Em relação aos autores do crime, o administrador disse que a família "não deseja nenhuma violência, mas que pede às autoridades judiciais a aplicação da lei da forma mais severa possível.
– Pois esses criminosos deixaram sem mãe duas crianças – enfatizou.
Dois já foram presos
Cristine foi morta por volta das 17h30min da quinta-feira, quando aguardava, em seu Honda Fit, o filho de 12 anos sair do colégio. O carro estava estacionado na Rua Ari Marinho, quase esquina com a Eduardo Chartier, Bairro Higienópolis.
Tiago Oliveira da Silva, 30 anos, teria se aproximado do veículo e exigido que Cristine lhe entregasse pertences, como a bolsa e o celular. Ele acabou disparando o revólver a cabeça da vendedora, que morreu na hora.
A filha de Cristine, de 17 anos, que estava no banco traseiro, em pânico, saiu correndo em direção à escola.
Ameaças
Ainda na quinta-feira, policiais da 9ª DP, com apoio de outras distritais e da Brigada Militar, prenderam Fabrício Farias, 20 anos, que acompanhou Tiago em uma série de assaltos praticados até a morte de Cristine.
Tiago apresentou-se no dia seguinte no Fórum Central, afirmando que havia recebido ameaças de morte. Um terceiro suspeito, Rafael Silveira Santa Helena, 26 anos, que estaria na direção do Palio vermelho que roubaram para cometer os delitos, ainda está foragido.
"Está muito fácil ser criminoso"
Irmão da vítima, em entrevista, cobrou ações de legisladores e do Executivo.
Diário Gaúcho – Como tem sido para a família encarar uma tragédia como essa? Principalmente em relação aos filhos de Cristine?
Rodrigo da Fonseca Massa – Na verdade a gente ficou muito abalado e se fechou neste final de semana. Mas é muito complicado, né? A gente vai ter que buscar um auxílio psicológico para eles, porque estão sofrendo muito. É uma coisa difícil de reparar. Ela (Cristine) era uma mãe superprotetora. Amava muito os filhos e não deixava nunca faltar nada para eles. O que fosse preciso, ela corria atrás para dar a eles.
DG – Já existia algum receio quanto à segurança no entorno da escola?
Rodrigo – Na minha casa sempre foi orientado que a gente deveria ficar o mínimo de tempo possível dentro de carro, mas a gente sempre dá uma escorregada em um lugar ou outro. A gente tem que ficar o mínimo possível dentro do carro para não se tornar um alvo fácil.
DG – Em sua fala a outros pais, você questionou a legislação. As leis foram o maior problema?
Rodrigo – A gente sabe que o Código Penal é bem antigo. Então, as leis são muito ultrapassadas. A gente espera que com essa série eventos que vem acontecendo por aqui e no país possa ser estudada uma forma de se rever esse Código Penal, fazendo as leis de uma forma que de repente os criminosos não possam sair tão fácil da cadeia. O que eu vejo é que muitas vezes os juízes alegam que são obrigados a soltar criminosos porque a lei manda, é? Então eles são obrigados, mesmo sabendo que, assim que forem soltos, vão cometer outros crimes.
DG – Dois dos três suspeitos já foram presos e a polícia acredita que está próxima de prender o terceiro. Vocês consideram isso um alento?
Rodrigo – Eu acho que é um começo, mas vou esperar agora que a Justiça seja feita e seja rigorosa para punir quem tem que ser punido. E espero que com o tempo o Brasil olhe bem para essas leis e possa mudar alguma coisa, pois está muito fácil ser criminoso.
DG – O assalto com a morte da Cristine provocou uma série de medidas de parte do governo, entre as quais a solicitação de apoio da Força Nacional. Essa medidas pode mudar a situação da insegurança?
Rodrigo – Em setembro do ano passado, o prefeito José Fortunati já havia sugerido que a Força Nacional fosse solicitada. Entendo que aquele era o momento de o governo do Estado já começar a agir, não apenas trazendo a Força Nacional, mas com outras medidas. De repente, equipando melhor a polícia, colocando mais policiais nas ruas. A gente tem esperança de que, daqui para frente, quem sabe, o governador possa mostrar que ele pode mudar isso aí e terminar melhor o governo em relação ao jeito que ele começou.