O pedido de um amigo apaixonado pelo motociclismo deu motivação inédita para o mecânico Oton Umpierre Barreto, 54 anos, de Novo Hamburgo. A missão era fazer o técnico químico aposentado Milton Lauri Arend, 60 anos, voltar a pilotar: vítima de acidente em 2015, teve parte da perna esquerda, abaixo do joelho, amputada. Justamente a usada para a troca de marchas.
– Era o meu único hobby. Imaginava que, aposentado, teria tempo para me dedicar. Aí, aconteceu (o acidente) – diz Milton.O motociclismo uniu os dois amigos há quase 20 anos. Esse laço caiu sobre os ombros de Oton.
– Estávamos prontos para ir ao Chile de moto e aconteceu o acidente. Quando ele me pediu para tentar uma adaptação, mergulhei nisso – conta Oton.
Fase de testes
Milton usa uma prótese e está adaptado. Mas ela não consegue reproduzir a flexibilidade do pé. Levar esse comando para botões ao alcance da mão esquerda do piloto tirou noites de sono de Oton. Pesquisando o assunto, encontrou referências de motos automáticas.A dificuldade era conseguir um motor que, além de pequeno, fizesse a inversão, para as marchas subirem e descerem na Transalp Honda 700 de Milton.
A solução surgiu após Oton usar um motor de arranque de moto. E tudo sem tirar o pedal, permitindo a pilotagem normal. Mas era cedo para chamar o amigo, morador agora de Passo Fundo.– Eu tinha, então, de testar o câmbio. Andei 2 mil km para experimentar todos os tipos possíveis de pista e ter certeza de que estava mesmo funcionando – diz o mecânico.
Tensão na hora da verdade
Com tudo pronto, era a vez de chamar Milton para um teste controlado, fora do trânsito normal. Aí, o motociclista tremeu na base.
– Nossa, como eu adiei esse teste. Sempre arranjava uma desculpa. Eu tinha era medo de encarar a realidade de que não pudesse mais pilotar a moto. Minha mulher que mandou eu ir de uma vez – lembra Milton.
Mas todo o medo se dissipou quando subiu na moto e andou, com o amigo mecânico observando de perto. A adaptação aos botões na mão esquerda foi perfeita.
O eletrocâmbio, como chama Oton, foi aprovado. Agora, Milton está encaminhando a habilitação adequada para a pilotagem, diferente daquela antes do acidente. E a moto também precisa de documentos específicos. Enquanto isso, a Transalp segue sob os cuidados de Oton, em Novo Hamburgo.