Uma audiência mediada pela Defensoria Pública e pelo Ministério Público, marcada para o próximo dia 5, pretende definir o destino dos cerca de 30 estudantes moradores da antiga Vila Dique, na Zona Norte.
Leia mais:
Superfeirão DG de Imóveis: a hora de realizar o sonho da casa própria
Adolescentes que depredaram escola na Capital vão para a Fase
Desde 23 de maio, quando a Infraero ergueu um muro sobre a Avenida Dique para a ampliação da pista do Aeroporto Salgado Filho e a prefeitura colocou um monte de terra sobre o restante da via para separar a extensão em obras da Avenida Severo Dullius, os alunos ampliaram em quase 20 vezes o trajeto para chegarem a duas escolas, distantes 1km e 2km da comunidade.
O caso foi mostrado pelo Diário Gaúcho no início de julho. Na primeira tentativa de negociação, na semana passada, mediada pela defensora pública Luciana Artus Schneider, do Núcleo de Defesa Agrária e Moradia, não houve acordo entre as lideranças da comunidade, representantes da prefeitura e da Infraero. Luciana sustenta que o caso é grave.
– São famílias carentes, sem condições de pagar quatro ônibus diários. Há, também, crianças pequenas que dependem dos pais para serem transportadas. É preciso uma solução provisória, como um transporte único, até que a Severo Dullius seja liberada. Percebo é que se este caso não fosse na periferia, já teria sido resolvido de alguma forma. Mas eles estão isolados naquela região – sintetiza Luciana.
Luciana afirma que se a situação não se resolver na audiência, os mediadores deverão acionar a prefeitura na Justiça para resolver o impasse.
Levantamento
A secretária Municipal da Educação, Cleci Jurach, informou que a Smed está fazendo um levantamento para saber quem são os alunos do ensino fundamental que dependem do transporte. Quanto aos estudantes do Ensino Médio, a atribuição é da Secretaria Estadual de Educação _ que apenas fornece transporte nas áreas rurais do Estado.
– Ficou decidido que seria pedido à EPTC para rever horários e roteiros dos ônibus que passam na região – justificou a secretária.
Pelo menos 300 famílias seguem morando na área isolada da antiga Vila Dique. Antes do fechamento da avenida, crianças e adolescentes pegavam um ônibus na própria via, numa viagem que durava dez minutos até as escolas, ou seguiam caminhando ou de bicicleta, quando o trajeto levava menos de meia hora.
É o caso dos irmãos Stephanie e Felipe Maciel de Oliveira, de 11 e 15 anos. Agora, os dois iniciam a rotina diária por volta das 6h20min, quando junto com estudantes com idades entre oito e 17 anos, percorrem à pé o trecho de terra da Avenida Dique em direção à Avenida das Indústrias.
De lá, seguem num primeiro ônibus até o terminal próximo da Estação Aeroporto, onde embarcam na segunda linha rumo ao Jardim Floresta - onde estão localizadas as duas escolas que recebem os alunos da Dique.
"Não pensaram nos moradores"
Presidente da Associação de Moradores da Dique (Amodique), a recicladora Scheila Motta reforça a necessidade de uma linha de ônibus única que leve as crianças às escolas.
Ela acredita que a finalização da Avenida Severo Dullius, que passará próxima à vila e seguirá até a Sertório, deverá resolver a questão. Porém, a obra de prolongamento deve ser finalizada somente em dezembro deste ano, segundo a Secretaria Municipal de Gestão.
– Não pensaram nos moradores quando levantaram esta parede. Há casos de alunos que não estão estudando por falta de dinheiro para as passagens. Outros estão morando temporariamente nas casas de parentes mais próximos às escolas – diz Scheila.