No começo da manhã desta quinta-feira, o ex-usuário de drogas e monitor da clínica Novos Horizontes Everton de Souza Rosa, 34 anos, olhava incrédulo para o quarto incendiado em que morreram sete pessoas em busca de reabilitação. Entre as vítimas do centro onde trabalha como monitor estava seu próprio irmão, Gabriel Souza Rosa, 19 anos. Everton conta que encaminhou o familiar para a instituição na esperança de livrá-lo do peso das drogas, já que ele próprio padeceu do vício por 16 anos e conseguiu se recuperar no local. O plano foi abreviado de forma trágica.
– (Internar) foi o meio que eu tive de ajudar a minha mãe e ele. E acabou acontecendo isso – desabafou o monitor, que estava de folga no momento do incêndio.
Gabriel usava maconha, droga menos pesada do que outras que costumam justificar internações, como cocaína ou crack, mas Everton temia que a erva servisse como trampolim para substâncias mais potentes. Não queria ver sua própria história espelhada no irmão. Por isso, havia 15 dias, o adolescente era mantido no quarto com ares de cárcere que se incendiou na madrugada.
– Fiz tratamento durante nove meses aqui, e depois optei por ficar como monitor porque é difícil para a gente, que foi dependente por tanto tempo, sair para a rua e deparar com tudo de novo. Foi também um meio de retribuir – acrescentou o funcionário.
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Everton estava em casa quando recebeu um telefonema e soube das chamas. Correu para o centro de recuperação, mas não havia tempo para fazer mais nada. O corpo de Gabriel foi localizado no banheiro, para onde havia corrido em busca de refúgio ao lado de outros três internos, e sem sinais aparentes de queimaduras. Acredita-se que tenha morrido ao inalar a fumaça espessa do incêndio.
– Se eu estivesse lá, não teria acontecido. Queria ter salvo meu irmão – lamentou o familiar.
O sentimento de impotência e culpa abalou as famílias das vítimas – em sua maioria jovens de até 24 anos. o comerciante Jeferson Petrich, pai de Matheus Petrich, 24 anos, estava inconsolável diante da delegacia de Arroio dos Ratos. Com a cabeça inclinada sobre a grade metálica que cerca o terreno, chorava de olhos fechados.
– A gente bota em um lugar para salvar, e acaba matando – desesperou-se.
Jeferson, dono de uma loja de aviamentos em São Leopoldo, já estava em seu carro em direção a Arroio dos Ratos quando ouviu, pelo rádio, a confirmação do nome do filho entre as vítimas. O rapaz havia chegado à clínica apenas dois dias antes da tragédia. Tia de Matheus, Joseandra Petrich, 30 anos, conta que o sobrinho trabalhava no comércio da família e estava lutando contra o vício. Deixou os pais e um irmão mais novo, de 17 anos.
– Ele era um jovem extrovertido, muito comunicativo e carinhoso com as pessoas – contou Joseandra.
OUTRAS VÍTIMAS
Samir Prestes Ferreira, 24 anos
Paulo Herivelto, 24 anos
Gustavo de Brito Fagundes, 32 anos
Elivelton Silva, 29 anos
Adriano de Sousa Antunes de Souza, 54 anos
* Zero Hora