O ex-deputado federal Paulo Ferreira (PT-RS), além dos dois inquéritos que responde por corrupção em contratos do Ministério do Planejamento e da Petrobras, agora precisa se preocupar com uma terceira investigação da Polícia Federal (PF). Ele é mencionado em delação premiada como um dos que intermediaram repasse de propina para o PT vinda de obras da usina nuclear de Angra 3. Ferreira teria feito isso, segundo a PF, quando era tesoureiro do partido, em 2010. Ele está encarcerado em São Paulo, com duas ordens de prisão preventiva emitidas pela Justiça, sem prazo para ser solto.
O testemunho, dado ao Ministério Público Federal (MPF), é do diretor de Relações Institucionais da construtora Andrade Gutierrez (AG), engenheiro Flávio Gomes Machado. Até agora, quatro executivos dessa empreiteira tiveram acordo de colaboração premiada homologado pela Justiça – incluindo o presidente da empresa, Otávio Azevedo.
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A corrupção no setor energético foi alvo da Operação Pripyat, um desdobramento da Operação Lava-Jato desencadeada quarta-feira e que teve como alvo a corrupção no setor da energia nuclear. A ação resultou na prisão de nove pessoas, incluindo o ex-presidente da Eletronuclear (estatal que cuida do setor), o vice-almirante reformado Othon Pinheiro. Ele já tinha sido preso ano passado pela Lava-Jato e cumpria agora prisão domiciliar, tendo sido novamente encarcerado por suspeita de maquiar repasses de propina feitos por executivos de empreiteiras.
Na delação feita ao MPF, o executivo Flávio Gomes Machado diz que a partir de 2008 a AG sediou no Rio reuniões para retomar obras de Angra 3, cuja construção estava parada desde 1983. Os pedidos eram intermediados por Othon Pinheiro, então presidente da Eletronuclear. Ele encabeçou reuniões nas quais participaram dirigentes da Andrade Gutierrez e também políticos do PMDB e PT.O PMDB controlava o Ministério das Minas e Energia e teria ficado com 1,5% de todos os contratos, em forma de doações legais a integrantes do partido. A solicitação teria sido feita por emissários do então ministro Edison Lobão e do senador Romero Jucá (PMDB-RR).
Já o PT, embora não encabeçasse o ministério, também solicitou contribuições. É aí que entra o gaúcho Paulo Ferreira. Em 2008 ele era tesoureiro nacional petista e seria logo sucedido por João Vaccari Neto. Vaccari solicitou 1% ao PT, mas a AG decidiu disponibilizar apenas 0,5%. O acerto foi feito numa reunião na sede da AG no Rio, da qual participaram Ferreira, Vaccari e o também petista Ricardo Berzoini (que presidia o PT nacional, na época), segundo as investigações.
Berzoini, secundado por Ferreira, teria insistido no 1% de contribuição "sobre todas as obras federais com participação da AG", assegura o delator Flávio Gomes Machado. O valor, ao final, ficou acertado em 0,5%, em doações oficiais.
Ao MPF, vários outros delatores da Lava-Jato confirmam que doações oficiais, tanto ao PMDB como ao PT, eram na realidade propina disfarçada como contribuição legal. As empreiteiras eram obrigadas a doar, sob pena de serem excluídas dos principais contratos do governo federal.
Ferreira será intimado a depor a respeito desses fatos. A PF tomará ainda depoimento de Vaccari, que também está preso e sofreu duas condenações pela Operação Lava-Jato (foi sentenciado a 15 anos de prisão num processo e a nove anos de prisão, noutro). Berzoini, que foi ministro nos governos Lula e Dilma, já é investigado por fatos semelhantes (pedidos de contribuição eleitoral não declarados) e deve ser alvo também dessa investigação.