O procurador da República Rafael Brum Miron, responsável pela Operação Hashtag, afirmou nesta sexta-feira que as investigações que prenderam brasileiros suspeitos de ligação com o Estado Islâmico começaram com um alerta do FBI, a polícia federal dos Estados Unidos. Segundo Miron, um documento com nomes de suspeitos foi enviado ao Brasil. As informações são do site G1.
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– Com base nesses elementos iniciais, foi feita uma investigação pelas autoridades policiais brasileiras para identificar grupos em redes sociais que disseminavam ideias do Estado Islâmico. Identificados esses grupos, foram feitos pedidos de quebras de sigilos de dados. Então teve conversas que incentivavam a participação, a integrar o Estado Islâmico, e vinham divulgando, promovendo a ideia da realização de atentados terroristas – disse o procurador.
Na operação, a polícia desbaratou uma célula do Estado Islâmico no Brasil que planejava um atentado terrorista durante a Olimpíada, no Rio de Janeiro. Dez foram presos, e outros dois suspeitos, contra os quais também há mandados de prisão, estão foragidos.
A descoberta aconteceu porque a PF monitorou mensagens trocadas pelo grupo nas redes sociais, sobretudo Wathsapp e Telegram. Além do plano para fazer um atentado terrorista na Olimpíada, eles relatavam tentativas de compras de armamento.
A partir do comunicado das autoridades americanas, segundo o procurador, as investigações conseguiram identificar as outras pessoas que faziam parte das trocas de mensagens consideradas suspeitas.
De acordo com o procurador, ainda que há outras pessoas que não foram presas e continuam sendo investigadas, mas que aparentemente elas não representam perigo como os suspeitos que tiveram mandados de prisão expedidos.
– O papel deles era de troca de informações. Não tinha nenhum nível hierárquico determinando alguma conduta – disse.
De acordo com o procurador, algumas dessas pessoas ainda não foram identificadas, e as investigações continuam nesse sentido.Rafael Brum Miron também negou que houvesse lideranças claras dentro do grupo. Na quinta, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, afirmou que um suspeito preso em Colombo, na Região de Curitiba, era o chefe dos suspeitos. O juiz responsável por autorizar as prisões, Marcos Josegrei da Silva, também já havia negado que houvesse algum tipo de liderança.
– Existiam algumas pessoas que tinham uma maior participação no incentivo de ideias radicais e terroristas. São pessoas que conversavam mais, que incentivavam mais. Duas delas efetivamente tinham uma participação bem mais efetiva, contudo, não dá para estacar efetivamente uma liderança. Tinha pessoas que participavam mais, e pessoas que participavam menos – explicou Miron.
Nova lei
De acordo com o procurador, as prisões dos suspeitos apenas foram possíveis porque em março entrou em vigor uma lei no país uma lei antiterrorismo. Rafael Miron afirmou que a lei é bastante rígida.
– Ela permite que mesmo atos como promoção à atividade terrorista, ou integração a uma organização terrorista, sejam punidas. No momento em que eles divulgaram entre eles, promoveram entre eles e incentivaram a realização de atentados terroristas, e temos sérios indícios a respeito disso que precisam ser confirmados, passou a ter a possibilidade de prisão dados os riscos que temos no presente momento em vista das Olimpíadas – afirmou.
O procurador disse que é fácil perceber fortes indícios de que o grupo infringiu o artigo 3º da nova lei, que fala em "Promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por interposta pessoa, a organização terrorista".
– O tipo penal principal que eu poderia visualizar no futuro seria a promoção ou integração de organizações terroristas. Nós não temos ato concreto de realização de um atendado porque o que existiam eram conversas de: vamos realizar um ato, é uma oportunidade de irmos para o Paraíso. Conversas e incentivo à realização – detalhou.
Segundo o procurador, as investigações ainda podem levar a enquadramentos em outros tipos de crime fora da lei antiterrorismo, como, por exemplo, integrar organização criminosa.
Grupo amador
A exemplo das declarações do ministro da Justiça, o procurador do caso também esforçou o caráter amador do grupo, que parecia apelar à ação isolada dos chamados "lobos solitários".
Apesar disso, Miron afirmou que não se deve menosprezar o amadorismo do grupo.
– A gente tem que ter presente que quando a gente diz que o grupo era amador, sim, era amador, mas não existe suicida experiente, então essa preocupação do lobo solitário, ela é bem demonstrada nesse caso – falou.
– Eles eram simpáticos ao Estado Islâmico, propensos a atitudes suicidas. A questão foge da questão religiosa e passa à questão de terrorismo mesmo (...) o perfil deles é o mais variado possível. A maioria era jovem, sem grandes poderes aquisitivos. A gente percebe um perfil muito agressivo nos diálogos deles – completou.