"Caos", "muito barulho", "helicópteros, aviões, tiros, explosões e sirenes", "inferno na terra". A empresária Fernanda Pelegrini, 31 anos, de Santa Catarina, definitivamente não curtiu Istambul da maneira que pensava que aproveitaria. Ela chegou à cidade justamente na sexta-feira, dia em que confrontos decorrentes de uma tentativa de golpe militar deixaram cerca de 265 mortos, para o casamento de uma amiga.
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Por volta das 20h, tudo parecia tranquilo. Ela saiu para correr e viu pessoas jantando em restaurantes, passeando na rua, fazendo compras, brincando com os cachorros. Voltou para o flat onde estava hospedada por volta de 22h e logo recebeu uma mensagem por WhatsApp do dono do local que alugava: "Fernanda, tem alguma coisa estranha acontecendo, a ponte foi fechada pelos militares. Não saia de casa e tranque todas as portas".
– Depois disso foi só piorando. Liguei a TV pra ver o que estavam falando. O único canal que encontrei em inglês foi o Al Jazira, mas ele não ficou ligado por muito tempo, em seguida cortaram o sinal. O pouco que vi falava de "golpe militar, "martial law" (imposição militar na liderança política) e "nova constituição". No WhatsApp, tinha muita informação desencontrada – relembra.
Sozinha, ouviu a confusão e o barulho da rua noite adentro sem saber direito o que ocorria. Mandou um e-mail para o Itamaraty perguntando como proceder, mas não obteve resposta. Conseguiu dormir lá pelas 4h.
– Acordei em um mundo diferente, tudo calmo e aparentemente sob controle. Mas hoje não saí e não pretendo sair. Ficar andando na rua não me parece a coisa mais sensata agora – afirma a empresária, que desistiu de participar da festa, que seria neste sábado. Pretende ir embora no domingo.
Já o modelo Bruno Amora, 30 anos, de São Paulo, que mora em uma zona afastada da cidade chamada Sariyer, ficou sabendo do que ocorria por meio de um amigo.
– Onde eu moro é um lugar bem calmo, nunca acontece nada. Mas ontem ouvimos muitos tiros, barulho de sirene... até hoje estava passando jatinho por aqui, então foi bem preocupante – descreve.
Conforme o modelo, a orientação era para ninguém sair de casa, já que a polícia tinha aval para atirar em qualquer pessoa que passasse na rua. Então, mesmo quem estava em casa começou a se desesperar: tinha gente ficando sem comida ou sem água, e não se sabia até quando aquilo iria durar.
– As pessoas aqui não estão acostumadas com isso. Até estão acostumadas com atentado terrorista, porque acontece o tempo todo aqui, mas ninguém sabia onde essa confusão ia dar. Pessoas por aqui estão falando que não sabem bem se foi golpe ou uma estratégia do Erdogan para ser reeleito.
Repassando as informações para a Zero Hora, Bruno ouvia rezas de uma mesquita ("estão falando por horas e horas sem parar, chamando as pessoas para as ruas"). Deu uma pequena saída até uma academia e percebeu que a habitual música do estabelecimento não estava tocando.
– Está todo mundo triste, preparado para o pior. Ninguém está muito confiante ainda. De hora em hora vem uma informação nova. Alguns colegas modelos de agências do centro da cidade estão indo embora – relata.