Muito mais do que casas com traços de arquitetura em estilo germânico ou de moradores com sotaque alemão bastante carregado é que são povoadas as ruas da cidade de Feliz, distante cerca de 40 quilômetros de Caxias do Sul. O município do Vale do Caí mostra que a solidariedade dos pouco mais de 13 mil felizenses não é páreo para o câncer que insiste em acometer a jovem Laís Poersch, 25 anos, que já foi soberana da cidade em 2011.
Prestes a ser submetida a uma delicada cirurgia para remoção de um tumor raro no intestino delgado, uma verdadeira mobilização se encarregou de arrecadar os R$ 150 mil necessários para o procedimento, que não é bancado pelo plano de saúde. A forma de arrecadar a grana começou virtualmente no site Vakinha.com.br, que reúne doações online, e tomará forma neste sábado, quando cerca de 650 pessoas ocuparão o salão da Sociedade Cultural e Esportiva Feliz (Socef) para o Chá da Lali. Os ingressos, a R$ 30, esgotaram em dois dias. Pelo menos 80 pessoas trabalharão na organização.
– As pessoas nos param na rua e perguntam: como posso ajudar? O que falta para o chá? A gente não parou mais, e isto nos ajuda a evitar a pensar na cirurgia– conta a mãe Vera Lúcia, 53 anos.
Todo o lucro obtido com o chá servirá para bancar a cirurgia marcada para 6 de julho, e também ajudará com remédios e outros gastos da família, já que Laís, recém-formada em medicina veterinária pela UFRGS não deve trabalhar tão cedo. A mãe largou o emprego como atendente para cuidar da filha. Reaprendeu a dirigir e toma conta da jovem em tempo integral, já que passou por momentos de bastante fragilidade após 11 sessões de quimioterapia. A dor que a aparição de um tumor raro em uma jovem tão querida causou na família é amenizada com o carinho da comunidade. As delícias que serão servidas no Chá da Lali, por exemplo, são fruto de doações. Bolo, torta, cuca, chimias, chocolates, salgados, docinhos, pizzas, salsichas, linguiça e outras delícias bastante típicas alemãs serão servidas com brindes para todos convidados. Uma fábrica de chocolate de Gramado destinou mais de 700 bombons para distribuição, e a banda Porto, do Vale do Caí, destinou quase 500 CD's.
– Tem gente dizendo que os cafés coloniais de Gramado vão esvaziar com o Chá da Lali – brinca a jovem.
"Doença de um é doença de todos"
Se depender do carinho da comunidade de Feliz com Láli, a doença já é assunto superado. As mãos de dezenas de mulheres do Clube de Mães Vila Rica trabalharam firmes na noite de ontem e durante todo este sábado para preparar tortas e rosquinhas servidas no café. Da farinha ao leite, todos os ingredientes foram doados por empresas da região. O mercado Selbach, um dos mais tradicionais na cidade, abriu as portas para doar todos os itens que a família precisava para o chá.
– Meu pai disse a eles: pega o que for preciso. Em cidade pequena, há algo pecualiar: a doença de um, é a doença de todos. É um compromisso que temos com a família dela– diz Cristiano Selbach, filho do proprietário, Seu Hans.
A rotina de Feliz mudou com a proximidade do evento. Na lotérica de Paula Froener, no Centro, houve fila para adquirir os ingressos. Houve gente que levou para revender, garante ela. Ali pertinho, a padeira Sueli Schoron se comprometeu em entregar 700 pãezinhos e algumas pizzas para o chá. Se há prejuízo com a ação?
– Nada é gasto quando se ajuda alguém que precisa de saúde – resume.
Na internet, amigos e até globais como Rafael Cardoso e Márcio Kieling compartilham vídeos e fotos para ajudar a Laís a arrecadar grana via site Vakinha.com. Até o fim da tarde de ontem, as doações acumulavam mais de R$ 123 mil. Somados com o valor da rifa, do chá e outras doações espontâneas, haverá dinheiro para a cirurgia.
– O que não usarmos agora será guardado para exames e um monte de remédios que vou precisar– explica.
Doença é rara e cirurgia é nova
A doença de Laís é um Adenocarcinoma de Intestino Delgado, um tumor raro que acomete a primeira porção do intestino. Ela já foi submetida a duas cirurgias, seguindo de 11 sessões de quimioterapia, interrompidas antes do tempo devido aos efeitos colaterais. Mesmo depois do tratamento, há pequenos nódulos que persistiram no peritônio, que é uma membrana fina que envolve os órgãos do abdômen, como o estômago e o intestino, separando-os dos músculos da região. Ela será submetida a uma cirurgia nova e que deve durar 12 horas. Será feita no Hospital Santa Casa,em Porto Alegre, onde Laís deve ficar dois dias na UTI e pelo menos 30 no quarto.
– A única forma de curar a doença agora é abrir o peritônio, tirar uma parte dele e injetar quimioterapia direto no abdômen– explica Laís.
De acordo com a jovem, o procedimento é novo e chamado de citorredução associada à quimioterapia intraperitoneal hipertérmica. Ele não está cadastrado na Agência Nacional da Saúde (ANS) e também não é coberto por planos de saúde.
– Tem médicos que dizem que ele é tão raro quanto ganhar na Mega-Sena. E eu prefiro pensar assim, tento ficar feliz e otimista– ensina.
COMO AJUDAR
* Caixa Econômica Federal (pode ser feito em agências lotéricas)
Agência: 1763
Conta: 30119-5
Operação: 013z
* Banco do Brasil (é uma poupança)
Agência: 2061-3
Conta: 16.483-6
Variação: 51
* Vakinha online
https://www.vakinha.com.br/vaquinha/cura-da-lali-d