Poucas horas depois de se despedir da mulher, que saía de casa diariamente às 4h da madrugada para trabalhar, o vigilante Alvaro Cabalheiro de Souza, 44 anos, recebeu a notícia que sua esposa havia sofrido um acidente. Foram vizinhos que o informaram sobre a queda de uma marquise em frente à padaria onde Tatiane Duarte da Silva, 34 anos, trabalhava há mais de uma década.
Desesperado, ele correu atrás de mais informações. Poucos minutos depois, recebeu a temida notícia de que a estrutura havia desabado sobre o corpo de sua mulher, que morreu no local.
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Ainda sem saber como irá comunicar o filho mais novo, Enzo Muriel, de 4 anos, sobre a morte da mãe, Alvaro busca o apoio dos parentes para superar a tragédia. O filho mais velho, Murilo, de 14 anos, que já foi informado sobre a tragédia, foi levado para a casa da avó.
Zero Hora conversou com Alvaro na manhã desta quinta-feira. Confira os principais trechos:
Como era a rotina de vocês?
Sim, ela saía de madrugada ainda, por volta das 4h. Ela era muito trabalhadora, e estava nesta padaria desde que o estabelecimento abriu. Ela se virava. Ia de carro até Belém Velho, pois moramos no bairro Lajeado, e depois pegava um ônibus para chegar no centro da cidade. Às 14h, já estava de volta, de lotação, para cuidar da casa, dos filhos. Ela era um amor de pessoa, não tinha inimigos, ajudava todo mundo. Ela era tão dedicada que estava há uns 15 anos na mesma empresa.
E como está a mãe dela?
A Tatiane sempre foi muito dedicada. Ela cuidava da mãe, que já havia sofrido de depressão. Ela começou a trabalhar aos 12 anos para ajudar a família, nunca abandonou eles. A Tatiane era gerente do local, a mãe trabalhava no apoio. As duas eram inseparáveis, uma não largava a outra por nada. Uma sempre ajudando a outra. A minha sogra está bem ruim, pois viu tudo o que aconteceu.
Como você recebeu a notícia?
Os vizinhos, o pessoal de uma padaria daqui me chamou e disse o que tinha ocorrido. É horrível, foi horrível. Meu filho pequeno nem sabe ainda, nem sei como contar. Para o mais velho já contei, ele está com a outra avó, buscando apoio. Ele está muito mal, pois a Tatiane era uma mãe muito grudada, muito carinhosa, ela cuidava de todos nós. Estava sempre agarrada com os meninos. Não existe mais pessoas no mundo como ela.
E como era a relação de vocês?
A Tatiane era o meu chão. Eu conheci ela ainda menina, com 16 anos, e ficamos juntos desde então. Estávamos casados há 18 anos, fizemos uma vida juntos. Ela era quem me fazia lutar todos os dias. Eu estava desempregado, e ela sempre me dava força, me dizia: "Vai em busca do teu sonho, que eu seguro as pontas". É que eu trabalhava como vigilante e queria abrir uma barbearia. Agora fiquei sozinho nessa luta, com dois filhos. A Tatiane era minha mulher, meu braço forte, minha mãe, minha amiga. Era uma pessoa iluminada.
E o que você pretende fazer daqui em diante?
Eu não posso nem responder como vai ser daqui em diante, só peço a Deus que me dê força. Eu não tenho ideia do que vou fazer, meu chão se abriu, não sei. Nessa hora queremos viver só pelos filhos. Não sei onde vou buscar força. Estou desempregado com dois filhos, e agora sem ela. A Tatiane era um anjo. Só de saber que a lotação vai chegar às 15h e minha mulher não vai descer dela, me dá um desespero. Não tem como descrever.