A revelação de que o ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira repassou recursos suspeitos para escolas de samba da Capital chamou a atenção para o financiamento do Carnaval de Porto Alegre. Responsável pela cobertura carnavalesca da Rádio Gaúcha e comentarista de rádio e TV, Cláudio Brito sustenta que doações como as realizadas por Ferreira são pouco comuns, mas indicam a necessidade de um maior cuidado com a origem dos recursos aplicados na festa popular. Confira, abaixo, a opinião do especialista sobre a relação de Ferreira com o Carnaval porto-alegrense:
A primeira observação a ser feita é de que o Carnaval de Porto Alegre vive com dificuldade. As escolas estão sempre em situação de penúria. Há até exemplos recentes de escolas que não conseguiram pagar a luz e sofreram corte de energia. Há recursos públicos formais, oficiais, pelos quais a prefeitura faz repasses para os carnavalescos, mas as escolas não estão impedidas de ter outras fontes de renda, como o faturamento na sua quadra durante eventos ou ensaios, e não é irregular ou pouco usual o patrocínio para enredos.
Tivemos, no Carnaval de Porto Alegre, enredos com apoio dos homenageados como sobre o centenário do Grêmio, o centenário do Inter, sobre a uva e o vinho e o arroz. Já houve enredo para a China, feito pela Restinga, com aporte do governo chinês. Nessa ocasião, o Paulo Ferreira teria auxiliado a escola por meio de contatos com os chineses.
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Quando Ferreira surgiu no meio carnavalesco, por meio de uma homenagem da Império da Zona Norte, que colocou o nome dele em sua bandeira, houve espanto porque ele não tinha uma história tão forte no Carnaval que justificasse isso. A Mangueira, por exemplo, nunca colocou o nome do Cartola em sua bandeira. É algo sagrado. Mais adiante, Ferreira surgiu como candidato a deputado, e as escolas de samba lhe deram apoio. Abraçaram a ideia de que seria o candidato do Carnaval, e ele passou a conviver com os carnavalescos, ajudou a encontrar patrocinadores, até virar enredo da Praiana em 2016.
Doações diretas como as que teriam sido feitas pelo Paulo Ferreira existem, mas não são tão comuns. Se fossem, as dificuldades do Carnaval não seriam tão grandes. É algo pontual que ele fez em nível pessoal, mas não é representativo do que costuma ocorrer. Não é a regra em Porto Alegre, onde as escolas vivem de pires na mão.
Nunca foi mistério que o Paulo Ferreira participava desse meio, auxiliava as escolas fosse politicamente, ajudando a conseguir recursos, fosse com recursos pessoais. Ele contribuiu politicamente, por exemplo, para buscar o aporte da Lei Rouanet para o Carnaval como um todo.
Deve haver uma preocupação com a origem do dinheiro, mas é difícil rastrear isso. Uma loja, um supermercado não perguntam para a pessoa de onde vem o dinheiro. Mesmo assim, é importante haver um controle maior sobre a verba porque há uma vinculação cultural e comunitária importante com o Carnaval. Mas, em resumo, a situação geral é de penúria.