Advogado de Viviane Rodrigues, madrinha de bateria da escola de samba Estado Maior da Restinga, de Porto Alegre, Leandro Pereira diz que a sua cliente recebeu pagamentos por determinação do ex-deputado e ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira por ter prestado serviços na campanha eleitoral de 2010. O defensor alega que a sambista agiu de "boa-fé", sem saber da origem dos recursos, e afirmou que a relação entre Viviane e Ferreira era de cunho profissional.
– Naquele período, entre 2010, 2011 e 2012, que eu saiba, a relação era estritamente profissional. Posterior a essa data, é uma coisa muito pessoal que eu não gostaria de me envolver. Mas, naquele período, ela efetivamente recebeu por ter trabalhado – assegura Pereira.
Na última segunda-feira, Ferreira foi alvo da Operação Abismo, na 31ª fase da Lava-Jato. O petista já estava preso porque, dias antes, foi detido na Operação Custo Brasil, em investigação sobre desvios de recursos no Ministério do Planejamento.
Na Lava-Jato, Ferreira é investigado por supostamente ter sido beneficiado pelo pagamento de propinas vindas dos contratos de obras do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), no Rio. O delator do esquema é o ex-vereador de Americana, em São Paulo, Alexandre Romano, o Chambinho. Aos investigadores, ele relatou esquemas que envolveriam Ferreira e apresentou comprovantes das transferências para Viviane. Entre 2010 e 2012, a madrinha de bateria teria recebido R$ 61,7 mil em 18 parcelas. Os valores, diz Chambinho, teriam origem nos desvios do Cenpes.
– Ela não tem nada a ver com isso. É uma surpresa desagradável que está interferindo na carreira dela. A gente sempre acredita que quem nos paga, quem nos remunera por um trabalho, faz de forma correta – alega o advogado.
Ele explicou que Viviane pediu reiteradamente a formalização de um contrato de trabalho, mas que Ferreira teria postergado isso, se limitando a anotar os dados da sua conta bancária. O defensor também descreveu os serviços prestados pela sambista na campanha de 2010, quando Ferreira ficou de suplente na bancada do PT.
– Ela foi contratada para fazer campanha política. Não só pedir votos, mas era uma assessoria com o uso da imagem dela. Ela fazia divulgação em nome do candidato. A imagem de uma pessoa rende votos – relatou Pereira.
Ele confirmou que Viviane chegou a ter contatos com o delator Chambinho para tratar dos pagamentos.
– O Paulo Ferreira havia falado a ela que quem a pagaria pelos serviços era esse senhor (Chambinho). Ela nem conhecia, só recebia o pagamento na conta. Às vezes, ela chegou a falar com essa pessoa sobre o pagamento que não vinha – conta.
O advogado reforça que "não há nada de ilegal nas atitudes dela" e informa que a madrinha de bateria está à disposição da Justiça, inclusive com possibilidade de abrir seu sigilo bancário e vida pessoal. A sambista, até agora, não foi procurada pelas autoridades.