A dobradinha favorita do brasileiro está cada vez mais difícil de ser engolida para quem não abre mão do feijão com arroz. Levantamento da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) aponta que o feijão subiu 27%, e o arroz, 13%, entre junho de 2015 e junho de 2016. Os que não conseguem ficar sem a refeição, driblam do jeito que dá.
Para fugir da alta dos preços, a dona de casa Terezinha Guimarães, 66 anos, da Vila Pinto, em Porto Alegre, tem requentado o arroz até três vezes antes de fazer uma nova panela. Nada é desperdiçado. No feijão, o jeito é fazer render com mais água no caldo. Na semana passada, Terezinha conta que comprou por quase R$ 6 o quilo do grão que, antes, pagava menos de R$ 4. E R$ 10 pelo saco de 5kg de arroz, que, no mês anterior, pagara R$ 8.
– Troco a carne pelo ovo, porque ela está cara também, mas não posso ficar sem arroz e feijão. Minhas netas Manuella (dois anos) e Maria Eduarda (oito) não almoçam sem eles – conta Terezinha.
Chuva
Especialistas e entidades do setor de agricultura apontam que as fortes chuvas no período do plantio, a opção do produtor de plantar soja no lugar destes grãos e, consequentemente, a quantidade menor de oferta no mercado elevaram os preços em toda a cadeia produtiva. Segundo o assistente técnico da Emater na área de grãos, Alencar Paulo Rugeri, o El Niño foi o principal inimigo das duas culturas no ano passado, com muita chuva e calor fora de época, afetando em cheio a produção.
– Grande parte do feijão que os gaúchos consomem vem do Paraná, o maior produtor do país. E a safra por lá foi complicada porque a chuva prejudicou as lavouras na época do plantio. Depois, veio a estiagem no inverno. As perdas passaram dos 20% – justifica Alencar.
Como resultado, os preços do feijão e do arroz estão acima dos 10,51% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de Porto Alegre, calculado nos últimos 12 meses. Na tentativa de baixar o preço do feijão nos supermercados, o governo federal anunciou nesta quarta-feira que deverá liberar a importação do produto da Argentina, do Paraguai e da Bolívia. Também se estuda a compra do México e da China.
Pesquisa
Proprietário há 20 anos de um restaurante no Bairro Cidade Baixa, Elvandir Severo Santos precisou aumentar em R$ 1 o valor do bufê livre, no mês passado, por conta do aumento dos preços do feijão e do arroz, os principais pedidos dos clientes.
– No início deste ano, pagava R$ 9,50 por 5kg de arroz. Nesta semana, desembolsei R$ 11,90 e depois de negociar. No feijão, a saca de 60kg custava R$ 120 em janeiro. Paguei R$ 160 na terça passada. Tenho pesquisado mais e comprado em lugares mais baratos, como feiras – reclama.
Pesquisa é o que também tem feito o motorista Ildo Lacerda, 59 anos, um fã de arroz e feijão que, diariamente, costuma conferir diferentes restaurantes antes de desembolsar para o almoço.
– Não fico sem a dupla, melhor comida para reforçar a tarde. Mas opto sempre por lugares mais em conta. Não dá para ficar sem comer – afirma.
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Hora de mudar
Para quem pretende substituir na mesa o prato por outras receitas, a nutricionista Ana Carolina Ferreira, do Sesc/Mesa Brasil, dá dicas que ajudam a variar o cardápio incluindo hortifrutigranjeiros – ricos em fibras e minerais – e outros produtos dos mesmos grupos da dupla mais querida:
– Batata-doce, inhame e aipim são ricos em carboidratos e podem substituir o arroz. Outra sugestão é trocar a canja por sopa de legumes. Na família do feijão, a ervilha, a vagem e o grão-de-bico são possibilidades. Mesmo com preços altos, eles podem fazer parte de uma salada.
Mas se não há chance alguma de deixar o feijão e o arroz de lado, Ana Carolina sugere que duas conchas diárias de feijão e duas colheres de arroz são suficientes para a alimentação saudável.