Um caso de violência sexual registrado no Bairro Jardim do Salso, em Porto Alegre, conhecido como "estupro do T1", deu início a uma série de denúncias nas redes sociais e causou rumores nos últimos dias. A jovem violentada fez um retrato falado online e divulgou seu relato e a imagem no Facebook. Muitas pessoas ficaram revoltadas com a história e compartilharam o post. Somente na página Porto Alegre 24 Horas, o retrato falado teve mais de 20 mil compartilhamentos, 11 mil curtidas e quase 2 mil comentários.
O estupro aconteceu no dia 9 de maio. Uma jovem de 19 anos andava em ônibus da linha T1, da empresa Carris, perto das 18h, quando foi abordada. O homem, que era branco e tinha aproximadamente 1m80cm, a rendeu com uma faca e a obrigou a descer do veículo com ele.
– Ele encostou a faca nas minhas costas e disse que, se eu gritasse, iria me furar. Descemos na primeira parada do Jardim do Salso e ele me levou para uma praça em frente ao colégio Fernando Gomes – contou a vítima em entrevista ao Diário Gaúcho.
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No local, o homem jogou a jovem na grama e, com a faca apontada para o seu pescoço, tirou parte da roupa dos dois e agrediu sexualmente a jovem.
– Ele dizia para eu não gritar nem me mexer e que não adiantava eu chorar porque quem iria chorar no outro dia, se eu reagisse, seria a minha mãe – relembra.
A vítima conta que viu uma chance de escapar quando o agressor largou a faca na grama. Neste momento, um grupo de jovens passou pelo local e ela se encorajou a gritar e empurrar o homem.
– Ele tentou pegar a faca, mas eu consegui levantar antes e saí correndo, vestindo minha roupa no caminho. Pedi ajuda para algumas pessoas, que apenas me olharam e não fizeram nada. Estava chorando, assustada e bastante machucada – retrata.
Quando chegou em frente a um comércio, a jovem lembrou que ainda estava com a bolsa e o celular. Ela ligou para a mãe que foi buscá-la no local e a levou para fazer uma denúncia na Delegacia da Mulher.
– Registrei queixa na hora, mas não cheguei a fazer o retrato falado dele. Me dei conta disso quando cheguei em casa, então, entrei em um site e fiz um retrato online.
Divulgação
A imagem do abusador, divulgada pela jovem em páginas do Facebook, além de provocar uma infinidade de compartilhamentos, gerou espaço para debates e depoimentos de outros meninas que teriam passado por situação parecida, e que acreditavam ser o mesmo agressor.
Nesta segunda-feira, a vítima voltou à Delegacia da Mulher para dar mais detalhes sobre o caso e foi encaminhada ao Instituto-Geral de Perícias (IGP) para fazer um retrato falado oficial e dar início ao processo policial.
Segundo a delegada Tatiana Barreira Bastos, da Delegacia da Mulher, o retrato que a jovem fez na internet não tem validade e não deve ser divulgado nas redes sociais.
– É complicado trabalhar com algo que não é oficial, não foi registrado. Estamos acompanhando as redes sociais, monitorando os comentários e compartilhamentos, mas as pessoas precisam fazer a denúncia na delegacia – salienta a delegada, que ressalta:
– O grande problema de divulgar um retrato falado não oficial é que algum inocente pode acabar sendo agredido na rua. As pessoas ficam assustadas com esse tipo de agressão e acabam tentando fazer justiça com as próprias mãos.
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Tatiana explica que, até o momento, apenas este caso foi registrado na Delegacia Especializada. As outras situações de abuso, relatadas na rede social, ainda não foram formalizadas na polícia.
– Isso também dificulta o nosso trabalho. Quanto mais detalhes e informações tivermos sobre o suspeito, maior será a chance de encontrá-lo. Qualquer fato semelhante deve ser denunciado – afirma.
Imagens das câmeras do ônibus onde o agressor abordou a jovem já estão sendo analisadas pela polícia.
Empresa de ônibus
Em nota, a assessoria de imprensa da Carris informou que todas as imagens registradas nos ônibus da companhia estão à disposição para análise da polícia. "Desde a inauguração do sistema de monitoramento nos veículos da empresa, em abril do ano passado, a Carris repassa regularmente os flagrantes registrados e atende às solicitações das autoridades de segurança, com objetivo de colaborar com as investigações."
Como denunciar:
Se você foi vítima de violência sexual, na forma tentada ou consumada, procure a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher, situada no Palácio da Polícia (na esquina das Avenidas Ipiranga e João Pessoa, em Porto Alegre), aberta 24 horas, ou envie mensagem para o WhatsApp da Polícia Civil (51) 8418-7814.