Em fevereiro deste ano, a filha mais velha, que já é maior de idade, voltou a morar em casa com os pais e outros três irmãos. Grávida, a jovem trouxe o companheiro com ela. Os pais não gostaram da ideia, mas acabaram concordando em acolhê-lo. Pensavam na filha que logo será mãe. A casa é espaçosa e aconchegante, capaz de comportar toda a família.
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Após algum tempo, a mãe começou a observar alterações no comportamento de uma das filhas pequenas, de 11 anos. Ela andava agitada e agressiva. A mãe conversava, observava, mas não entendia o que se passava com a garotinha.A harmonia do lar havia sido quebrada três dias após a chegada do casal. Algo acontecia, mas ninguém via.
Até que, no dia 7 de abril, chegou um bilhete da escola da filha de 11 anos solicitando a presença da mãe para uma conversa em particular.
– Pensei que o problema estivesse na escola porque ela não é de brincar na rua e eu pensava que estava tudo bem em casa.
Descoberta
Ao chegar na escola, a mãe foi questionada pela orientadora pedagógica se havia algo errado no convívio do lar. Ela respondeu que não, pois aparentemente não havia motivo. Sem revelar o que estava acontecendo, a orientadora chamou a menina e a instigou a contar o segredo à mãe.
– A orientadora olhou pra ela e disse: "Pode contar pra tua mãe, porque que eu já falei pra ela". A minha filha respondeu: "Como assim professora?". Respirou fundo e continuou: "Ai mãe, nem sei como te falar o que o namorado da mana fez comigo".
A garotinha criou coragem e contou os detalhes do abuso sexual que vinha sofrendo dentro de casa. Um dos meios utilizados pelo agressor era simular brincadeiras de esconder no escuro. O rapaz também teria invadido o banheiro enquanto ela tomava banho. A menina revelou que a violência ocorreu repetidas vezes não só com ela, mas com a irmã caçula de sete anos.
– Quando ela disse isso, eu só assinei a ata da escola e fui embora. A caçula estava em casa com eles (a filha mais velha e o namorado). Se aconteceu com todo mundo em casa, imagina o que poderia acontecer enquanto eu estava fora?
O percurso de volta para casa, de apenas 15 minutos de ônibus, durou uma eternidade. Apesar do choque ao descobrir que as filhas sofreram caladas, a mulher encontrou forças para manter a calma e pôr fim ao crime cometido pelo genro. Chegou em casa e reuniu a família. O rapaz negou ter cometido as agressões. Ao ouvir a discussão, a caçula prontamente se pronunciou. "É verdade mãe, ele fiz isso comigo também".
– Achei que o meu marido saltaria em cima dele, mas a única coisa que conseguiu fazer foi chorar. E eu ali, firme e forte.
A discussão foi seguida de horas de tensão, angústia, choro e raiva que transbordavam as vísceras. A filha mais velha e companheira do agressor arrumou as malas com a intenção de ir embora com ele.
– Quando vi a minha filha mais velha, grávida de uma menina, subindo esse corredor de mãos dadas com ele, decidi impedi-lo de sair e chamei a polícia.
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Schirlei Alves
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