A Secretaria de Estado da Agricultura e Pesca liberou mais nove áreas para a extração, venda e consumo de ostras no litoral de Santa Catarina. São elas: Ponta do Papagaio, em Palhoça; Caieira da Barra do Sul, Costeira do Ribeirão, Freguesia do Ribeirão, Barro Vermelho, Santo Antônio de Lisboa, Sambaqui e Praia do Forte, em Florianópolis; e São Miguel, em Biguaçu. A liberação nesses locais só vale para as ostras. Continuam proibidos o consumo e a venda de mexilhões, vieiras e berbigões.
Na quarta-feira, o governo já havia desinterditado duas áreas de Palhoça: Barra do Aririú e Enseada do Brito. Lá, porém, a liberação é válida para todos os moluscos. Ao todo, o Estado monitora 23 áreas – e 12 delas continuam integralmente proibidas de comercializarem os moluscos. Segundo o governo, o restante do litoral permanece interditado pela presença da toxina diarréica (DSP) nos animais.
A desinterdição das áreas de cultivo de ostras foi possível após dois laudos laboratoriais consecutivos comprovando que não há mais a presença da toxina diarréica nesses moluscos. O mesmo procedimento é exigido para desinterdição dos cultivos de mexilhões, vieiras e berbigões.
O presidente da Federação das Empresas de Aquicultura de Santa Catarina (Feaq), Fábio Brognoli, comemorou a liberação e disse que a decisão é tardia, já que as ostras não vinham apresentando sinais de contaminação:
– Eles custaram para concordar com a gente. Foi um mês sem faturar – afirmou Brognoli.
Esta é quarta interdição na produção dos moluscos no litoral catarinense nos últimos 10 anos. As outras ocorreram em 2007, 2008 e 2014. Mas nenhuma delas durou tanto tempo e causou tantos prejuízos. Os produtores calculam que as perdas alcancem R$ 6 milhões.
Entenda o problema
A proibição da extração, venda e consumo dos moluscos em todo o litoral catarinense foi determinada em 26 de maio. A explicação é a presença em grande número da alga Dinophysis, que pode causar intoxicação alimentar.
O oceanógrafo e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Leonardo Rörig acredita que houve um desequilíbrio do ecossistema marinho. Ele explica que a água do litoral catarinense está carregada de muitos nutrientes, como fósforo e nitrogênio, vindos tanto da Bacia do Rio da Prata quanto da Lagoa dos Patos. Isso facilita a proliferação de algas nocivas, fenômeno popularmente conhecido como maré vermelha (embora nem sempre haja mudança na coloração da água). Aliado a isso, as correntes marítimas estavam fracas e a água circulou pouco nas baías litorâneas, dificultando a dissipação dos microrganismos.
Dessa forma, os moluscos acabaram filtrando as algas e produzindo uma toxina que pode causar diarreia, náusea e vômito em caso de consumo humano. Rörig acredita que o fenômeno desse ano pode ter sido causado por questões meteorológicas.
– No ano passado, mal tivemos inverno por causa do El Niño, enquanto neste ano o frio veio forte e cedo. Isso pode ter interferido na ecologia da água e favorecido a proliferação desses organismos tóxicos – diz.
Maior produtor do país
Segundo dados de 2015 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 98% da produção nacional de mexilhões, vieiras e ostras saem de Santa Catarina. Palhoça, na Grande Florianópolis, é o destaque, com 60,8% da produção estadual e 59,6% da nacional. Outras oito cidades catarinenses apareceram no ranking das 10 com a maior produção do país.