A massa de ar polar que chegou com força ao Rio Grande do Sul na madrugada desta quarta-feira será intensificada a partir de sexta, quando o frio mais intenso do ano no Brasil está previsto para São José dos Ausentes, nos Campos de Cima da Serra. De acordo com a Somar Meteorologia, a mínima na cidade deve ser de -5ºC, e a sensação térmica de -20ºC. Há 50% de possibilidade de neve. Até agora, a menor temperatura de 2016 foi registrada hoje em General Carneiro, no Paraná: -4,5ºC.
Sem a influência do El Niño, o outono deste ano está mais gelado – o que deve se repetir no inverno – em relação ao mesmo período de 2015 e 2014. Os termômetros de Ausentes podem marcar -4ºC na madrugada desta quinta. Conforme o meteorologista Evandro Ribeiro Magalhães, da Somar, existe a possibilidade de neve com baixas precipitações no município, e também em Bom Jesus e São Joaquim (SC).
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– O que colabora para a incidência de neve é a temperatura abaixo de zero e a umidade, que está vindo de um ciclone extratropical do mar. No momento, a chance é de 50%, já que não temos tantas nuvens úmidas – explica Magalhães.
Em toda a região sul do país, 21 cidades amanheceram abaixo de zero na manhã desta quarta-feira. Frio semelhante neste ano só tinha ocorrido entre o fim de abril e o começo de maio. O fenômeno ocasiona a formação de geada, com riscos de prejuízos para a agricultura e pecuária.
Ruas desertas e orelhas tapadas
Em São José dos Ausentes, a Assistência Social (CRAS) organizou um espaço na Rua Joaquim de Oliveira Paim, número 694, para o recebimento de doações de roupas e cobertores. Eles são destinados principalmente a comunidades rurais carentes do Interior e migrantes que vêm trabalhar na safra da batata e da maçã.
– Atendemos uma família de quatro haitianos que chegou aqui sem agasalhos. Auxiliamos também migrantes do Maranhão, que trabalham nas nossas lavouras. Tem gente que não faz noção do frio e realmente não se prepara. Todos podem doar quando vierem fazer turismo – afirma a coordenadora do CRAS na cidade, Fátima Rosângela de Souza Velho.
Conforme o sol vai caindo, os moradores da região dos Campos de Cima da Serra desaparecem das ruas – com exceção de alguns corajosos, como o agricultor Antônio Xavier, 66 anos (foto abaixo). Enquanto a família se aconchegava no final da tarde ao redor do fogão à lenha em uma casa de madeira às margens da ERS-110, na localidade de Sucará, em Bom Jesus, ele vestia um único blusão de lã e tratava porcos, galinhas e outros bichos ali perto, no campo. Frio de 3ºC? Para ele, nem é tanto:
– Tem dias piores. É só trabalhar que não se sente.
O fogão é o único meio de aquecimento da residência. Estufa é perigosa, garante Leonora Pereira da Costa, 78 anos, mulher de Xavier. Enquanto preparava cuscuz e pinhão na chapa para um casal de amigos, ela ensinava que, para se proteger do frio, é preciso tapar as orelhas:
– Quando a gente sente o vento na orelha, daí sim fica ruim.
