O curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUCRS realizou ato na noite desta terça-feira para criticar a prisão do repórter Matheus Chaparini, do Jornal JÁ. A intenção do encontro, segundo o coordenador do curso, Fábian Chelkanoff, era mostrar que não se pode "aceitar que o trabalho de um profissional seja cerceado por qualquer tipo de situação".
– Queremos levantar a bandeira do jornalismo livre. Livre, mas com responsabilidade. Percebemos que o cerceamento sobre o trabalho da imprensa está passando dos limites. E no momento em que ele perde essa liberdade, tudo se compromete – afirmou.
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Participaram do encontro, além dos estudantes da universidade, autoridades como o presidente da Federación de Periodistas de América Latina y el Caribe (Fepalc) e da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Augusto Schröder.
– Nos preocupa saber que o número de agressões a jornalistas cresceu nos últimos anos, acompanhando a elevação das ações judiciais contra profissionais de imprensa. Movimentos como esse precisam acontecer, para unir a classe – disse Schröder
Chaparini, 27 anos, formado em 2013 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), cobria a ocupação de estudantes na Secretaria da Fazenda (Sefaz), no Centro de Porto Alegre, no dia 15 de junho, quando foi levado pela Brigada Militar à 3ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento e, em seguida, encaminhado ao Presídio Central. Outras seis pessoas também foram levadas à penitenciária, entre elas, o cinegrafista Kevin Darc.
O jornalista e os demais presos foram liberados na madrugada seguinte, 14 horas depois, e o caso está sob investigação do delegado Omar Sena Abud, titular da 17ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre.
– Não estou investigando um fato isolado, mas sim a invasão de um prédio público por várias pessoas, entre elas um repórter. Tudo está sendo apurado e só vamos saber as condutas de cada pessoa na conclusão – disse Abud, que tem até o dia 15 de julho para finalizar o inquérito.
O governo afirmou em nota que o repórter foi preso porque estava "agindo como militante" e que "só se identificou como jornalista quando já estava consumada a prisão pelo ato de invasão". De acordo com o documento, "a prisão se deu em virtude do ato individual de invasão, do qual ele foi parte ativa, e não do exercício da atividade profissional de jornalista". Porém, um vídeo publicado na manhã do dia seguinte às detenções mostra o repórter identificando-se como jornalista para a polícia. As imagens e o áudio contradizem nota divulgada pela Secretaria Estadual da Segurança para explicar a prisão do profissional durante o ato. Mesmo assim, a nota continua sendo a versão oficial do Estado.
Feito pelo próprio Chaparini, o vídeo indica que ele estava documentando a ação da Brigada Militar contra os estudantes, que dirigiu perguntas aos policiais e que se identificou mais de uma vez como jornalista. Nas imagens, vê-se os policiais retirarem os manifestantes à força, direcionando jatos de spray de pimenta diretamente no rosto de estudantes. Em certo momento, quando Chaparini tenta se mover e acompanhar a retirada dos alunos até a rua, um capitão coloca a mão diante da câmera e o impede de prosseguir.
Conforme a Corregedoria da Brigada Militar, os policiais agiram no "estrito cumprimento do dever legal" e que, portanto, não há investigação em andamento acerca da conduta dos militares.