Depois de ser ovacionado por um auditório lotado e disputado para selfies e autógrafos, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) palestrou na noite desta sexta-feira em Florianópolis, em evento organizado por acadêmicos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Antes de iniciar a conversa sobre O Brasil de hoje: a crise política e saídas para a economia brasileira – e de começar o encontro engrossando o coro da plateia de "Fora, Temer" –, ele falou com o Diário Catarinense sobre os rumos políticos do país e sobre a possibilidade de voltar a ser candidato.
O que motiva o senhor a percorrer o Brasil neste momento?
Porque seguramente passamos pelo pior momento da história moderna brasileira, da qual sou partícipe, ou testemunha, há 35 anos. O Brasil corre riscos tremendos nesse instante. Temos uma confusão porque havia um governo muito ruim, porque a Dilma era muito mal-avaliada e eu mesmo tenho várias opiniões negativas, e a população caiu num envolvimento desse esforço de golpe que elites e políticos estão fazendo. Fazem por três motivos. Primeiro, os políticos querem por um fim à Lava-Jato, como já está evidenciado. Segundo, o centro da especulação financeira, que é onde está o poder real no Brasil, quer propor um conjunto de medidas já em marcha para raspar todo e qualquer centavo da educação e saúde para gerar excedente para colocar no saco sem fundo da especulação e da agiotagem oficial. E terceiro é o estrangeiro. O Brasil faz um esforço notável de reaproximação com vizinhos do Mercosul e os Brics estão na iminência de fundar um banco multilateral que independiza o planeta das instituições hegemonizadas pela América do Norte. Também o pré-sal brasileiro, cuja lei de entrega também já está votada no Senado e vai para a Câmara com orientação de urgência do Temer. Enquanto isso, nosso povo é distraído com a novelização do escândalo, mesmo às vezes sendo coisas requentadas. Porque saber que o Eduardo Cunha é ladrão, eu sei há mais de 10 anos.
Qual o caminho para a solução?
Proteger a democracia. Explorar no limite do que seja possível, ainda que minha experiência indique improbabilidade, mas tentar que se reverta no meio do povo essa passividade diante da insatisfação com a Dilma. Essa escalada golpista não é contra a Dilma ou a favor do Temer, é contra o brasileiro, contra o povo. Então uma pessoa como eu, que não tem rabo de palha e conhece o que está ocorrendo, tem por obrigação ajudar a tentar produzir esse milagre de que cinco senadores ponham a mão na cabeça, pensem no povo, na história e não aceitem ser lidos no futuro como aqueles que ajudaram, como bucha de canhão, uma quadrilha de salteadores a tomar conta na marra da República.
Como o senhor avalia o papel do seu partido, o PDT, nesse processo?
O PDT tem clareza da questão fechada contra o impeachment. Entendemos isso como imperativo para a defesa da democracia e da legalidade, porque carregamos a memória de Getúlio Vargas, que se matou antes, mas seria derrubado pelo mesmo conjunto de valores. Somos contemporâneos de João Goulart. Em 1964, havia um porta-aviões estacionado na costa brasileira. O "Renan Calheiros" da época declarou vaga a presidência alegando mentirosamente que o Jango tinha fugido, sendo que ele estava no país. Deu posse ao "Eduardo Cunha" da época, que promoveu uma eleição indireta em que até o Juscelino Kubitschek caiu na besteira de votar no Castello Branco. O STF, em dois dias, cumprindo sua tradição lamentável, homologou e hoje ninguém duvida que foi um golpe de uma noite que durou 21 anos. Hoje ocorre a mesma coisa, apenas com as sofisticações dos tempos modernos. A baioneta é substituída pelo dinheiro da propaganda e pelo empreguismo.
Com tanta demonstração de apoio por onde o senhor tem palestrado, pretende voltar às urnas?
Não sei, duvido muito. Eles podem contar comigo para lutar, mas não sei se vou mais ser candidato.