Apesar de a Polícia Civil tratar o caso em que o adolescente Yuri Matheus da Silva Machado, 17 anos, foi morto por um policial militar à paisana durante um assalto, como legítima defesa, cabe ao Ministério Público acatar a conclusão do inquérito, que deve ser finalizado em 30 dias. Caso entenda que o policial não agiu em legítima defesa, pode denunciá-lo por homicídio. Nessa situação, Santa Maria teria registrado o 19º assassinato do ano.
Yuri foi morto com pelo menos três tiros nas costas, conforme a família. O adolescente foi atingido pelo policial militar Márcio Tadeu Farias Godinho, que estava de folga e foi roubado pelo suspeito durante um assalto ao trailer Hélio Lanches, que fica na Rua Coronel Niederauer, na noite de terça-feira.
O pai de Yuri, Máximo Paulo Lorentz Machado, questiona a ação do policial à paisana:
– Só fiquei sabendo que ele foi morto com seis tiros (os outros teriam atingido o capacete do adolescente). Estão dizendo que foi legítima defesa, mas ninguém dá seis tiros nas costas de alguém por legítima defesa. Meu guri ajudava em casa, não era dessas coisas – ressalta o pai.
No entanto, Yuri tinha dois registros por atos infracionais, um em 2015, por posse de um cigarro de maconha, e outro em 2016, por dano a um veículo.
O professor da PUC/RS Alexandre Wunderlich, especialista em Direito Penal, afirma que legítima defesa é para cessar uma agressão e que o laudo da perícia será fundamental para demonstrar onde foram e quantos disparos acertaram a vítima.
– O que causa estranheza é a posição e o número excessivo de disparos, que, em tese, não configurariam uma legítima defesa. Ela precisa ser moderada, para cessar uma agressão. Se houver excesso, ele poder ser responsabilizado – explica.
O Diário tentou contato com o policial Márcio Tadeu Farias Godinho, porém, por intermédio do comandante do 2º Batalhão de Operações Especiais (2º BOE), major Paulo Antônio Flores de Oliveira, ele informou que preferia não se manifestar. O advogado dele também não foi localizado. O 2º BOE deve abrir um procedimento interno para apurar a conduta do policial.
– Orientamos que o cidadão não reaja, mas o policial militar sabe a hora certa de tomar ou não essa providência. Se ele está em uma situação dessas, ele acaba se obrigando a tomar uma atitude, como foi o caso. Ele (policial) entendeu que era possível reagir e reagiu _ contextualiza o comandante.
A vítima
O velório de Yuri ocorreu na casa da avó dele, na Vila Nossa Senhora do Trabalho, bairro Salgado Filho, na região norte de Santa Maria. O sepultamento foi às 17h desta quarta-feira, no Cemitério Jardim da Saudade, no bairro Caturrita. Entre os familiares, o sentimento é de incredulidade com o que aconteceu.
– Ele estava em casa com a gente, aí chegou um amigo dele e convidou para sair. Depois, recebemos a notícia de que ele tinha sido morto. Não é porque sou pai que estou defendendo, sempre eduquei meu filho da melhor maneira. Sempre demos o que podíamos, nunca soube que ele tinha envolvimento com assaltante – desabafa o pai de Yuri, Máximo Paulo Lorentz Machado.