Quinta-feira será um dia importante para a história da comunidade judaica mundial. Às 14h será realizada a solenidade que marca a entrega das obras de restauração do Cemitério Israelita de Philippson, que fica em uma fazenda às margens da BR-158, em Itaara. O local, onde se formou a primeira colônia de imigrantes judeus do Brasil, é símbolo da luta dos que fugiram das perseguições do governo russo e chegaram em solo brasileiro em 1904.
Cemitério Israelita Philippson será restaurado
Cerca de 50 convidados devem participar da cerimônia, a maioria descendentes de pessoas que foram sepultadas no cemitério. Entre os presentes, estará Isaac Abraham Axelrud, um senhor de 94 anos, que, conforme registros históricos, é a última pessoa nascida na colônia de Philippson.
Governo do Estado confirma reforma do Cemitério Philippson, em Itaara
Além de toda a importância histórica, Philippson é um patrimônio cultural do Rio Grande do Sul. Em 1994, o local foi tombado pela Secretaria de Cultura do Estado. Por isso, a Sociedade Beneficente Israelita de Santa Maria precisou de autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae-RS) para realizar as obras.
A obra
O projeto de restauração do cemitério teve início em fevereiro de 2015, com a previsão de conclusão de seis meses. Inicialmente, o investimento seria de aproximadamente R$ 500 mil. O prazo precisou ser estendido por conta das fortes chuvas do final do ano passado e, também, em decorrência das dificuldades de caminhões chegarem ao local com o material.
Os valores também ultrapassaram um pouco o montante previsto inicialmente. Os recursos foram doados, em grande parte, por pessoas que têm parentes sepultados no local. A Sociedade Beneficente também recebeu apoio da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, do Instituto Cultural Judaico Marc Chagall e das prefeituras de Santa Maria e de Itaara.
A BK Engenharia, de Santa Maria, foi a responsável pela restauração dos muros, do portal de entrada e, principalmente, dos túmulos, que estavam bastante deteriorados pela ação do tempo. As primeiras sepulturas são datadas de 1904, ano em que os judeus da antiga Bessarabia, hoje Moldávia, vieram para o Brasil fugidos do império russo. À época, Itaara ainda pertencia a Santa Maria.
– É um sentimento de dever cumprido. É bom saber que ajudamos a preservar a memória do povo judeu, materializada aqui em Philippson. O judaísmo sempre pregou, dentro dos seus ensinamentos, que devemos preservar a cultura e a tradição. E essa é uma forma de preservar toda a história daqueles que acabaram saindo dos seus países e vieram começar uma vida nova em outro país – afirma o ex-presidente da Sociedade Beneficente Israelita de Santa Maria, Sérgio Klinow Carvalho, que foi responsável pela obra.
Descoberta
Acreditava-se que havia 84 pessoas sepultadas em Philippson. Durante as reformas, mais uma sepultura foi encontrada. Muitos dos sobrenomes registrados no local são conhecidos não só em Santa Maria, mas em todo o Estado. A maioria dos túmulos tem identificação, mas há 25 lápides pequenas, provavelmente de crianças, que não estão registradas. Acredita-se que o surto de alguma doença tenha afetado o local e provocado tantas mortes.